Descrição de chapéu
Cristiano Teixeira

Financiamento sustentável

Distribuição de recursos também deve incluir pequenas e médias empresas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cristiano Teixeira

Embaixador pelo Clima da Rede Brasil do Pacto Global da Organização das Nações Unidas, é membro do Business Leaders da COP26 e presidente da Klabin

A COP26 trouxe importantes avanços sobre o que o mundo precisa fazer para impedir que o aquecimento global acelere e, literalmente, faça territórios desaparecerem e traga prejuízos irremediáveis à biodiversidade. Sem contar a ampliação da desigualdade social que a degradação ambiental já causa, aprofundando o abismo entre nações mais ricas e mais pobres.

Foi citado pela primeira vez na história dessas cúpulas que o fim do uso dos combustíveis fósseis é necessário, e regras para a construção de um mercado de carbono global foram finalmente desenhadas, para citar exemplos positivos. E a necessidade de financiamento global nessa estratégia também ganhou foco. Se ainda faltaram definições mais práticas sobre como ocorrerá, por outro lado as vozes dos que precisam mais desses recursos ecoaram mais altas e receberam apoio de diversos setores, como a iniciativa privada e boa parte da opinião pública.

Como um dos membros do Business Leaders da COP26, grupo de empresários que atuou oficialmente nos debates antes e durante a conferência sobre o papel do setor privado nas ações para salvar o meio ambiente, pude ver de perto as necessidades de todos os lados. No evento em Glasgow "Delivering Finance for Developing and Emerging Markets", que contou com a presença da secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, reforcei a certeza do quão fundamental é esse tema para as pequenas e médias empresas e as cadeias de fornecimento —sobretudo de países em desenvolvimento que sofrem mais com as consequências climáticas e sociais, mas são os que menos poluem.

Grandes companhias de capital aberto têm acesso a linhas de crédito robustas e com custos razoáveis, igualmente como ocorre em empresas globais. Muito diferente da realidade de pequenas e médias, que têm papel fundamental na economia real de qualquer nação. No Brasil, essas empresas menores são responsáveis pela maior parte dos empregos. Somente para ilustrar, responderam por cerca de 70% da geração de vagas formais entre janeiro e setembro deste ano, ainda em meio a efeitos negativos da pandemia. Foram 1,8 milhão de novos postos, segundo levantamento do Sebrae com dados do Caged.

Em 2009, os países industrializados assumiram o compromisso de liberar, a partir de 2020, US$ 100 bilhões para nações em desenvolvimento participarem da transição verde, mas os recursos não saíram do papel. O Pacto de Glasgow lamentou "profundamente" que essa meta não tenha sido atingida, mas sublinhou que precisa ser cumprida com "urgência" até 2025 para segurar o aquecimento global em 1,5ºC.

Na COP26, ficou claro que mais recursos serão necessários. Um grupo de países africanos calcula em US$ 1,3 trilhão até 2025 e, apesar de o texto final falar apenas em "aumento significativo" de financiamento a países em desenvolvimento, o mundo todo ouviu e ficou mais consciente sobre o que as nações mais vulneráveis e os respectivos setores privados necessitam.

Por isso, é crucial chamar a atenção do setor financeiro em geral, desde bancos a agências de desenvolvimento, para serem mais criativos. A solução não é trivial, muito menos fácil, mas caminhos certamente poderão ser abertos. Talvez um deles seja a constituição de fundos para esse fim, utilizando recursos do mercado de carbono global que deverá ser estruturado, tema que ainda merece mais debate.

No Brasil, já há iniciativas importantes nesse sentido, com o Banco Central construindo regulamentação que impõe ao setor financeiro daqui ações sustentáveis, inclusive como parte das avaliações de risco para seus clientes pessoas jurídicas. Pode ser um estímulo para garantir investimentos em diversas cadeias produtivas.

Reforço: não são tarefas fáceis, mas com vontade política o mundo pode estreitar ainda mais os laços para evitar uma tragédia climática. O investimento é alto e, numa olhada rápida e sem profundidade, pode parecer que levaria a perdas econômicas para alguns. Mas é justamente o contrário. Se não houver esforço agora, todos vão perder.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.