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É preciso defender quem nos protege

Quem protege populações vulneráveis, as matas e as águas corre mais riscos

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Bianca Santana

Jornalista, cientista social e pesquisadora, é autora de ‘Quando Me Descobri Negra’ e colunista da revista Gama

Zé do Lago, Márcia e Joene protegiam a Amazônia. Foram assassinados a tiros em São Félix do Xingu (PA). Dias antes, o quilombola José Francisco Lopes, da comunidade do Cedro, em Arari (MA), também foi assassinado —quando pessoas negras como eles eram especialmente atingidas por inundações e desmoronamentos na Bahia e em Minas Gerais.

O termo racismo ambiental ajuda a compreender como as chamadas mudanças climáticas nos impactam de modo desigual, a depender do CEP, renda, moradia, saneamento básico. E justamente quem defende populações vulneráveis e protege as matas e as águas corre mais riscos.

O relatório de 2021 da Global Witness contabilizou 20 ativistas ambientais assassinados no Brasil em 2020, indígenas na maioria. Entre janeiro e novembro de 2021, a Comissão Pastoral da Terra registrou 26 assassinatos em conflitos no campo, além de destruição de casas, expulsões e outras violências em 418 territórios, 28% deles indígenas, 23% quilombolas.

Eliete Paraguaçu, marisqueira e quilombola de Porto dos Cavalos, na Ilha de Maré, região metropolitana de Salvador, enfrenta o racismo ambiental e a violência contra defensoras de direitos humanos há quase 20 anos. Ao participar de estudo de Neuza Miranda, professora da Escola de Nutrição da UFBA, sobre contaminação industrial, tomou consciência dos níveis de chumbo, cádmio e mercúrio na Baía de Todos os Santos —nos pescados e no adoecimento da população.

"De lá para cá não tive tranquilidade. São perseguições, ameaças e três ações na Justiça contra mim", relata Eliete, que tem recebido o apoio de diversos movimentos e organizações. "A Baía de Todos os Santos é nossa fonte de renda, de cultura, inspiração. Somos nós, pescadores, que cuidamos dos manguezais, das nascentes, das florestas. Fazemos a luta em defesa do bem viver e de toda forma de vida com os nossos corpos".

Que em 2022 assumamos a proteção de defensoras e defensores de direitos humanos como responsabilidade de cada um de nós.

Eliete Paraguaçu, líder de comunidade na região metropolitana de Salvador
Eliete Paraguaçu, líder de comunidade na região metropolitana de Salvador - Reprodução
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