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No escuro

Em meio a nova onda de infecções por Covid, Brasil continua sem dados para formular estratégias

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Agente testa pessoa suspeita de estar contaminada pela ômicron - Evandro Leal/Agência Enquadrar/Folhapress

O Brasil jamais teve plano nacional amplo e organizado de testes de Covid. As estatísticas da doença já foram prejudicadas por problemas no sistema federal de registros, isso quando o próprio governo não tentou censurá-las. Desde o dia 10 de dezembro, porém, o descalabro é completo.

Faz mais de um mês, os registros informáticos do Ministério da Saúde foram, segundo o governo, atacados por hackers. O descaso e a inépcia fizeram com que partes do sistema ficassem fora do ar até sexta-feira passada, pelo menos.

Em 2020, a negligência com os dados da pandemia já havia levado órgãos de imprensa a apurar por conta própria as estatísticas. Agora, em meio a nova onda de casos, acompanhada de epidemia de gripe, o país não tem um quadro completo de toda a situação.

Cientistas e técnicos não podem elaborar análises, estimativas e estratégias de contenção de danos. Não houve tentativa oficial de criar sistemas alternativos de informação; não há explicações sobre o que se passou e como evitar novas panes. Sabe-se apenas que, também em caso de guerra cibernética, o Brasil é presa fácil.

A desinformação favorece a estratégia federal de negligência criminosa e a propaganda oficial de mentiras. Cidadãos não têm noção dos riscos que correm nem recebem alertas objetivos de cautela. É mais uma realização típica do governo: largar o país à própria sorte.

A esse respeito, vale ressaltar que Jair Bolsonaro e seu capacho no Ministério da Saúde tentaram atrasar o quanto puderam a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. A altamente transmissível ômicron infecta os menores como nunca, a julgar pelas informações de países mais desenvolvidos que o Brasil.

Números locais indicam altas de internações em UTIs, sinal de que a variante, embora menos letal, se espalha rapidamente, chegando assim aos mais frágeis, como idosos e aqueles que não se vacinaram.

Qual o ritmo da nova onda? Quais grupos de pessoas atinge com mais facilidade e gravidade? O que fazer a fim de preparar hospitais? Mesmo que as informações voltem a ser registradas, tão cedo não haverá séries de dados longas o bastante para reflexão mais precisa.

No escuro, o país não sabe qual pode ser o efeito desta nova onda sobre o funcionamento de serviços e da economia. São frequentes as notícias de cancelamentos de voos por falta de tripulantes, abatidos pelo coronavírus, por exemplo. Como a variante afetará hospitais ou serviços e negócios essenciais, como a produção de alimentos, água e energia?

Para os cidadãos desamparados, a ignorância é uma maldição. Para os propósitos do governo, uma grande conveniência.

editoriais@grupofolha.com.br

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