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O fazedor de crises

Ao patrocinar reajuste a policiais, Bolsonaro desperta sanha de servidores e provoca novo tumulto

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Vista aérea da Esplanada dos Ministérios, em Brasília - Ana Volpe/Agência Senado

A maior marca a ser deixada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) talvez seja a capacidade do presidente da República de criar graves problemas para si próprio e o país. O mandatário revelou-se insuperável nesse quesito.

Seus arroubos autoritários, a relação errática com o Congresso e o negacionismo na pandemia, entre outros comportamentos desestabilizadores, agravaram nos últimos três anos a delicada situação social e econômica brasileira.

Perspectiva de baixo crescimento, ausência de reformas, dólar caro e inflação elevada refletem, em grande medida, o estilo tosco e barulhento do presidente.

Eis que, na reta final para seu último ano de mandato, Bolsonaro armou talvez a maior bomba contra sua administração, capaz de implodir o que ainda resta da confiança dos agentes econômicos ou levar o país a ondas de paralisações no serviço público, com prejuízos para toda a população.

Ao exigir da equipe econômica, no final de 2021, dinheiro para reajustar salários de policiais federais, sua base de apoio, Bolsonaro despertou a sanha de demais servidores por elevação de vencimentos.

De pronto, centenas de auditores da Receita Federal entregaram cargos de chefia em protesto contra a falta de regulamentação de um bônus de desempenho e cortes no orçamento do órgão.

Agora, funcionários em posição de comando no Banco Central ensaiam fazer o mesmo. E servidores da área de planejamento e orçamento decidiram em assembleia aderir a paralisação, no dia 18 próximo, para pressionar o Planalto a negociar um reajuste salarial.

Novamente por sabotagem do próprio Bolsonaro, seu governo perdeu a chance de fazer uma reforma administrativa nos últimos três anos. A solução da equipe econômica foi congelar os vencimentos dos servidores civis. Pois, segundo estimativa oficial, cada 1% de aumento linear ao funcionalismo custaria R$ 3 bilhões.

É provável que a pressão atual por reajustes não existisse, ou fosse bem menor, se o presidente não tivesse liderado o movimento ao conceder aumento aos policiais e ao ter aventado, no início de dezembro, a possibilidade de um reajuste a todo o funcionalismo.

Afinal, ao longo dos últimos dois anos pandêmicos, os servidores públicos foram talvez o único grupo a não ter perdido parte de seus rendimentos ou empregos —algo que se tornou praxe no setor privado.

Ademais, segundo o Banco Mundial, o prêmio salarial para os servidores federais no Brasil, na comparação com seus equivalentes (inclusive por escolaridade) na iniciativa privada, chega a 67%.

Mas, consistente, Bolsonaro não perderia nova chance de tumultuar.

editoriais@grupofolha.com.br

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