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Abalo na infância

Pandemia reduz matrículas no ensino infantil, crucial no combate à desigualdade

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Parque em escola municipal de São Paulo - Rivaldo Gomes - 15.fev.21/Folhapress

A epidemia e suas sequelas socioeconômicas tiraram mais de 653 mil crianças pequenas da escola. Em 2021, o número de matrículas de alunos de até 5 anos caiu 7,3% em relação a 2019. Foi a informação que mais chamou a atenção no Censo Escolar, e não por menos.

Creches e pré-escolas estão entre os problemas sociais mais urgentes. Ainda assim, as estatísticas ressaltam também deficiências e desigualdades crônicas.

O número de matriculados no ensino fundamental também caiu. Trata-se, entretanto, de fenômeno de mais de meia década, em boa parte relacionado à diminuição da população de 6 a 14 anos. No caso da educação infantil, observa-se situação mais precária.

Apenas 35,6% das crianças frequentam creches, pelo dado mais recente, de 2019; no caso das crianças de 4 e 5 anos (pré-escola, de matrícula obrigatória), são 93%.

A educação infantil é uma fase crítica de preparação para o ensino fundamental. Reduz desigualdades entre filhos de famílias com muitos recursos culturais e socioeconômicos e aquelas na pobreza.

Pode proporcionar um ambiente protegido e estimulante para os filhos de quem precisa trabalhar e não conta com cuidadores. É nessa etapa, ademais, que se registra a maior desigualdade de acesso entre brancos e pretos ou pardos. São assuntos que deveriam estar no centro do debate social.

O censo evidencia ainda a disparidade de recursos educacionais (acesso à internet, computadores para estudantes, bibliotecas etc.) entre as regiões do país. No Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste, a internet é utilizada no ensino em pelo menos 72% das escolas; no Nordeste, em 36,3%, e no Norte, em 22,3%.

É também grande a disparidade de acesso a ensino integral entre os diversos estados, iniquidade raramente relacionada à renda de cada unidade da Federação.

O nível de formação dos professores tem aumentado, mas ainda faltam docentes especializados em todas as disciplinas. Em matemática, os professores sem formação na área ou grau superior são 25,8% daqueles que lecionam a disciplina no ensino fundamental inicial (até o 5º ano) e 19,4% no ensino médio.

Ainda é chocante o número de estudantes que não está na série adequada à sua idade, resultado de repetências e abandonos. A distorção série-idade no 9º ano é de 25,5% no caso do sexo masculino e de 17,7% no feminino. Na 3ª série do ensino médio, de 27,1% e de 22,1%, respectivamente.

Educação infantil, atraso escolar ou ensino ineficiente são temas centrais da pobreza e da desigualdade. Nas acirradas polêmicas nacionais ou entre candidatos ao poder, o assunto ainda não foi objeto de toda a atenção necessária.

editoriais@grupofolha.com.br

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