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João Camargo

Rumo às urnas, com serenidade

O mínimo que se espera é o bom debate em torno de ideias e propostas

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João Camargo

Presidente do grupo Esfera Brasil

Desde a redemocratização, em 1985, os anos em que houve eleição presidencial foram marcados por agitação natural, uma vez que, numa única cartada, se decidiu em grande parte o futuro do país nos quatro anos seguintes. O pleito deste ano não será diferente, devendo refletir a grande expectativa da sociedade em relação ao governo que sairá das urnas. Mais uma vez, um fervilhante cenário político, como a história nos tem mostrado, não deverá constituir fonte de preocupação.

O Brasil chega a 2022, ano do bicentenário da Independência, com muitas conquistas das quais devemos nos orgulhar. Talvez as duas maiores sejam a consolidação da democracia e da liberdade de imprensa. Não é pouca coisa para um país jovem que, no século passado, enfrentou duas ditaduras e, entre uma e outra, viveu um hiato democrático particularmente turbulento.

De certa maneira, ao contrário da impressão que talvez se tenha à primeira vista devido à polarização, a eleição deste ano tende a gerar menos ansiedade. Afinal, os dois candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto já foram testados no cargo. Em contraste, os presidentes eleitos nas últimas mais de três décadas representaram uma incógnita. Agora não: Jair Bolsonaro e Lula —goste-se deles ou não— são amplamente conhecidos dos eleitores, o que reduz a margem para surpresas.

Mais importante que o resultado é o fato de que, apesar dos sobressaltos, como o impeachment de dois presidentes, a democracia continua forte e intacta. As instituições nunca deixaram de funcionar e garantir a lisura do processo, o que a imprensa livre tem registrado sem restrições.

A campanha eleitoral que se avizinha será mais relevante na medida em que se concentrar mais em programas do que em nomes. Há enormes problemas pela frente, como sabemos todos. Na área da saúde pública, temos que ter um plano para lidar com a situação provocada pela pandemia. Mesmo que até lá a crise sanitária esteja contornada —como se espera—, o Brasil deve estar preparado para enfrentar eventuais novos focos de contaminação. Na educação, a prioridade deve ser a recuperação do terreno perdido durante o período de distanciamento social, que prejudicou sobretudo alunos sem acesso à internet de qualidade.

Espera-se também dos candidatos planos econômicos claros. O desemprego elevadíssimo, o PIB anêmico, a inflação na casa dos dois dígitos, a histórica desigualdade social —tudo isso exige uma resposta rápida, sob pena de impormos sacrifícios adicionais às futuras gerações.

O bom debate deve girar em torno de propostas e projetos que busquem resolver tais problemas. É o mínimo que a sociedade espera de candidatos responsáveis. Se divergências são inevitáveis e se toda unanimidade é burra, isso não significa que o cenário atual é, necessariamente, o de um país dividido. O Brasil está unido pela democracia.

É por isso que a agitação que certamente viveremos nos próximos meses não será empecilho para a manutenção de investimentos por parte dos empresários. A disputa política aberta nunca é fonte de apreensão. Ao contrário, ela apenas oxigena o poder. Nos 200 anos da Independência, com a serenidade de quem sabe estar trilhando o caminho certo, reafirmaremos nossa maturidade democrática.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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