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Alinhando os incentivos da economia

Apenas através do crescimento da produtividade conseguiremos chegar lá

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Silvia Matos

Economista e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre)

Nós, economistas, estudamos como as pessoas reagem a incentivos. E aqui não há um julgamento moral. A pergunta que sempre nos fazemos é se os incentivos estão alinhados com os objetivos almejados, como desenvolvimento econômico e social.

O empresário deseja maximizar o lucro. Se os incentivos estão certos, a busca pelo lucro também deve aumentar o investimento, o emprego e a renda. O empresário deve adotar novas tecnologias, contratar uma mão de obra com mais qualidade, aprimorar o processo produtivo e, com isso, haverá ganhos de produtividade ao nível da firma. Se todas as empresas seguem o mesmo caminho, haverá um aumento de produtividade do país, com trabalhadores mais produtivos e com melhores salários.

No entanto, de forma simplificada, se um setor é protegido, pois tem um regime especial, um benefício já estabelecido, o lucro está assegurado. Então não há necessidade de ser eficiente e inovador. Uma boa analogia é a seguinte: por que estudar para a prova se a aprovação está garantida? Até alunos bons e dedicados não vão se esforçar muito, pois não há incentivos para tal atitude.

Raciocínio similar pode ser aplicado aos políticos. Como convencer os políticos das boas políticas públicas? Infelizmente, as cobranças da sociedade e da mídia para que soluções rápidas sejam encontradas geram, na grande maioria das vezes, resultados ruins.

Se existissem órgãos governamentais com os objetivos de disseminar informações, subsidiando a formulação e a avaliação de políticas públicas, e assessorar o governo nas decisões estratégicas, isso não apenas evitaria o improviso nas escolhas de soluções rápidas e mal elaboradas, mas também contribuiria para blindar o governo das pressões dos grupos de interesse.

Podemos ter uma perenidade das boas políticas públicas, convencendo a sociedade e, consequentemente, os políticos de que essa é a estratégia a ser adotada; e essas políticas deixarão de ser de um governo específico e se consolidarão como políticas de Estado. Um exemplo desse fenômeno é a política educacional no Ceará. Governos de diferentes partidos políticos têm mantido as mesmas práticas e têm conseguido colher dividendos políticos dessa estratégia. E toda a sociedade sai ganhando, com o retorno de um gasto público muito eficiente e justo.

Não existem atalhos para o desenvolvimento de um país. Apenas através do crescimento da produtividade conseguiremos chegar lá. Mas isso só é possível com boas políticas econômicas, que consigam alinhar os interesses individuais dos empresários, dos trabalhadores e dos políticos com os interesses coletivos.

Esse é o caminho.

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