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AD Junior

Diversidade e racismo em pauta

Não há como pensar o futuro do país sem que questões estejam no centro do debate

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AD Junior

Comunicador e apresentador, é head de marketing da Trace Brasil, consultor de diversidade e militante antirracista

Tratar de questões relacionadas à diversidade é sempre desafiador, ainda mais em meio a uma guerra que, ao que parece, não terminará tão cedo. Há que se ter muito cuidado para não ser interpretado de forma equivocada pelos leitores. Portanto, todo cuidado é pouco.

Este ano promete muitas emoções no campo das discussões sobre diversidade. Nas últimas semanas, em meio à guerra na Ucrânia, vimos o debate sobre raça surgir de forma espontânea durante esta que já é a maior crise humanitária ocorrida em solo europeu neste século. Entretanto, é necessário observar que isso só se deu de forma abrangente porque, nos últimos anos, especificamente nos últimos dois, desde a morte de George Floyd, vivenciamos um debate mundial sobre os impactos do racismo no mundo.

Isso significa que avançamos um pouquinho nesta pauta e estamos mais maduros para entender que falar de racismo é coisa séria, necessária e inadiável.

Ainda sobre a discussão dos impactos do racismo, chegamos aqui com o desafio de seguir instigando as pessoas a conhecerem a pauta antirracista, trazendo novos elementos sobre grupos que, cada vez mais, esperam sua oportunidade para falar de suas realidades nesta que é uma sociedade dramaticamente estratificada em raça, classe e gênero. Sim, exatamente nesta ordem, visto que raça é um fator determinante para entendermos o Brasil.

Este ano nos trará desafios, já que uma grande parcela da sociedade brasileira ainda se nega a participar da luta contra o racismo. Ainda são muitos os brasileiros que parecem viver na Islândia, país que não passou por um processo de escravidão em massa e sua população é basicamente homogênea. Esses brasileiros ainda acreditam que o país que mais escravizou indivíduos nos últimos cinco séculos da história não sofre as mazelas estruturais produzidas por este sistema. Eles se cansaram de palestras e conversas sobre racismo. Para eles, chegou a hora de parar de falar sobre isso.

2022 nos faz lembrar muito dos debates do início dos anos 2000, quando tratar de eugenia e racismo estrutural era fruto de uma verdadeira disputa entre brancos brasileiros. Muitos diziam que era uma conversa inventada, que não éramos racistas, e os que ousavam questionar a narrativa de uma falaciosa democracia racial eram implacavelmente linchados pela opinião pública.

No ano passado, vimos a consolidação da pauta antirracista e o surgimento de projetos de longo prazo criados para população negra neste país. Foi o ano do "intensivão" para que muitas pessoas brancas e negras, que não estavam atentas às pautas, conhecessem nomes e pessoas relevantes. Ficou claro que não há como pensar o futuro do nosso país sem que diversidade e inclusão estejam no centro do debate.

Daqui para frente precisaremos ter uma conversa ainda mais profunda sobre como podemos combater efetivamente o racismo, agora que entenderam que ele é estrutural. Teremos de apontar quem são esses agentes que impedem essa discussão na sociedade. Precisaremos identificá-los e, didaticamente, combatê-los de forma direta. Quem são os que negam o racismo e como funcionam seus mecanismos de negação?

Com as eleições às portas teremos candidatos abordando essa pauta diretamente com a população brasileira. Se nas eleições de 2018 vimos candidatos referirem-se a pessoas pretas, indígenas e mulheres de forma criminosa, em 2022 o brasileiro está, em parte, mais consciente e atento. Vamos aceitar esse tipo de abordagem?

Vamos ter que nos lembrar de quem riu e apoiou o preconceito, a xenofobia, a perversidade e a mentira de não ver o racismo como um problema central em nossa sociedade.

Não se assustem se ainda neste ano muitas pessoas negras passarem por um processo de cancelamento, sendo taxadas de insensíveis e rancorosas. Esse estranhamento pode acontecer quando negros se descolarem da cordialidade para botar o dedo na ferida. Isso ofenderá sobremaneira quem ainda deseja continuar no mesmo lugar.

Daqui para frente, o tom professoral e cordial dará lugar a uma conversa densa, com pedidos de entrega e cobrança de indicadores que mostrem de fato uma melhora nas empresas e nas políticas públicas. Enfim, será como na escola: vamos ver quem passou de ano, quem repetiu e, infelizmente, quem vai abandonar os estudos.

Daqui para frente, sabemos que a jornada contra a desigualdade vai avançar. Esta pauta, queridos leitores, não tem volta.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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