Descrição de chapéu
Amanda Vitoria Lopes

Lula não é Dilma; Alckmin não é Temer

Petista escolheu ex-governador paulista antes mesmo da filiação ao PSB

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Amanda Vitoria Lopes

Cientista política, é doutoranda no Instituto de Ciência Política (UnB) e membro do Observatório do Congresso (IPOL-UnB)

A provável e inusitada chapa Lula-Alckmin para as eleições presidenciais de 2022 pegou a todos de surpresa. Até 2021, Geraldo Alckmin (PSB) era um quadro histórico do PSDB e grande adversário do Partido dos Trabalhadores, concorrendo contra o próprio Lula em 2006. Apesar do espanto causado, a escolha de Lula por um vice de centro-direita não é novidade.

Entre as lideranças petistas, houve descontentamento com a dobradinha. O receio é que Alckmin seja o Michel Temer (MDB) de Lula, traindo-o durante o mandato. É equivocado afirmar, contudo, que a escolha do vice de Lula é igual à que catapultou Temer a estar do lado de Dilma Rousseff.

Na seleção do candidato, Lula define quem ocupará a candidatura de vice-presidente na chapa, sendo o partido consequência dessa decisão. O petista escolheu o ex-governador paulista antes mesmo de o ex-tucano se filiar ao PSB. A mesma situação se deu com José Alencar na eleição de 2002. O então senador estava deixando o PMDB (atual MDB), quando Lula o escolheu. Assim como Alckmin, Alencar representava setores liberais e de centro-direita e se filiou ao PL na disputa daquele ano.

No caso da ex-presidente foi diferente. No decorrer do segundo mandato de Lula, o petista conseguiu atrair o MDB para a base do governo. O PT considerava importante a continuidade da aliança para a governabilidade de Dilma. Para isso, era necessário que o PT amarrasse o MDB ao futuro governo, dando a posição mais estável: a Vice-Presidência. Como então presidente da legenda, Temer era a indicação imediata. Mesmo contrariada, Dilma o aceitou visando manter a base de apoio no Congresso.

Diferentemente da boa conexão que Lula manteve com Alencar, inclusive indicando-o ao Ministério da Defesa, Dilma viveu uma relação tumultuada com Temer. O ponto mais crítico foi a publicação da carta que ele enviou à petista, afirmando se tratar de um "vice decorativo". Caso Lula siga a experiência anterior, Alckmin também poderá receber um ministério para chamar de seu.

As relações entre presidente e vice-presidente são construídas já na seleção do candidato à vice. Lula sempre foi protagonista na escolha de seus companheiros de chapa, o que proporcionou uma relação de estabilidade e troca durante o governo. Já no caso de Dilma, primeiro foi escolhido o partido, para depois ser indicado o vice, alimentando uma relação conflituosa, o que culminou no alijamento de Temer das principais decisões do governo. De outro lado, Temer recebia deputados em seu gabinete para articular pautas políticas —inclusive o impeachment.

A seleção de um vice programático, visando apenas a governabilidade, como foi o caso de Dilma, pode gerar instabilidade devido à incompatibilidade de objetivos. Ao passo que, ao selecionar o seu vice, Lula não se limita apenas à legenda partidária, mas visa um candidato que amplie a agenda de governo e o leque de alianças possíveis.

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