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Guerra, mês 1

Ucrânia resiste, e Putin, sob sanções, parece disposto ao conflito prolongado

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Destriuição em Kiev, capital da Ucrânia - Fadel Senna/AFP

Ninguém sabe o que Vladimir Putin esperava de fato com seu ataque descabido à Ucrânia, que explodiu no cotidiano mundial há um mês.

Especula-se o óbvio: a guerra não vai bem para o presidente russo, pela lógica segundo a qual ele esperaria que o susto colocasse Kiev de joelhos, aceitando suas condições para desfigurar o país e torná-lo uma província amiga de Moscou.

Os impactos globais ainda estão por ser vistos em sua plenitude, a começar pelas ondas de choque das duras sanções impostas ao Kremlin. Não se pode prever ainda até onde irão nem a extensão de seus danos econômicos gerais.

Já a união dos países da Otan, a aliança militar ocidental, irá durar? Em especial se a Rússia for percebida como uma ameaça menor, na hipótese de fracassar em seus objetivos estratégicos na Ucrânia —ainda mais com um desempenho militar considerado decepcionante?

Sem esse interesse comum, ressentimentos antigos podem vir à tona. A Alemanha, líder econômica da Europa, é criticada até hoje por sua reação ortodoxa à crise econômica de 2008.

Os EUA, por ora, só auferem lucro. Claro, seria melhor para Joe Biden enfrentar eleições legislativas sem ter de responder por que, afinal, chegamos à guerra. Mas ele vai bem até aqui, porque seu verdadeiro rival estratégico, a China, está em uma posição complexa.

O acerto que Xi Jinping firmou com Putin a 20 dias da invasão, ponto culminante de um processo de retórica unificada contra o Ocidente, deu em nada por ora.

Se Pequim esperava um passeio russo na Ucrânia como forma de ditar novas regras para o jogo internacional, talvez pensando em emular o modelo com Taiwan a seu lado, terá de pensar duas vezes.

A cautela chinesa insinua a esperança de um rearranjo inevitável de ordem mundial, seja qual for o resultado da guerra. Mas Xi tem uma miríade de problemas econômicos para resolver antes disso.

Isso dito, o conflito é jovem. Vencedora da batalha de comunicação, a Ucrânia está longe de poder cantar vitória militar. Ao contrário. Salvo um colapso ora insondável, Putin parece apostar numa guerra de atrito para implodir o vizinho.

Uma saída intermediária é possível, porém na prática a desolação em solo garantirá uma Ucrânia sem dentes e um Putin ditatorial.

A alternativa, uma iminente derrota russa, traz o risco de uma reação radical, como recorrer a armas nucleares para subjugar Kiev. Parece impensável, mas anda no topo das preocupações ocidentais, até para tentar manietar o russo.

Tais especulações acompanham o caleidoscópio do combate real. O prolongamento da guerra só aumenta o número de variáveis para um mundo mais inseguro.

editoriais@grupofolha.com.br

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