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O que a Folha pensa Rússia

O sujeito oculto

Xi procura se distanciar de Putin, com um olho na própria disputa com os EUA

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O líder chinês, Xi Jinping , é visto na TV em um centro comercial de Pequim - Noel Celis/AFP

A guerra na Ucrânia tem suas origens no desarranjo que a implosão da União Soviética e da Guerra Fria, 30 anos atrás, legou à Rússia e a sua vizinhança. Quando acabar, poderá ter ajudado a moldar os novos capítulos da versão redesenhada do embate, protagonizada pelos mesmos Estados Unidos de antes e agora pela emergente China.

O líder chinês, Xi Jinping, é o grande sujeito oculto da crise que se desenrola no Leste Europeu. Aliado fundamental de Vladimir Putin, ele estendeu o tapete vermelho ao presidente russo 20 dias antes da guerra, ofertando um tratado informal de "amizade eterna".

Segundo relatos não confirmados, Xi foi avisado da ação russa de 24 de fevereiro e pediu que ela ficasse para após o fim dos Jogos de Inverno de Pequim, dia 20.

Naquele e em outros encontros antes, o chinês disse a Putin que ambas as nações tinham de enfrentar juntas o Ocidente e suas pressões, particularmente o instrumento das sanções econômicas.

Na irresistível ascensão econômica do país, Pequim sempre procurou deixar o aspecto militar em segundo plano. Até por sua interdependência econômica com o Ocidente, a ditadura sabe que guerras podem ser ruins para os negócios.

Mas a assertividade de Xi nunca passou despercebida fora da China, como em sua crescente agressividade em relação a Taiwan.

Assim, EUA e aliados do Indo-Pacífico trataram de colocar o sino no gato, alertando que Taiwan não é a Ucrânia. Uma imprecisão: por mais que aja como age, Putin não tem como base oficial de sua política a tese de que o vizinho é sua propriedade, como Xi faz quando fala da ilha autônoma.

Desde que a guerra estourou, o líder chinês tenta se manter na sombra. Diz que a aliança com Putin segue inabalável, não condena o conflito na ONU e critica as duras sanções a Moscou. Defendeu, contudo, um cessar-fogo e se ofereceu para facilitar conversas.

Xi examina o cenário, pois sabe que no futuro pode ser a China a enfrentar os ocidentais. Se a disputa tarifária com os EUA —que em 2017 marcou o novo ensaio da Guerra Fria sob Donald Trump— já causou desgaste, um regime amplo de sanções pode ser um pesadelo.

Ocorre que, mais ainda do que no caso atual, ao menos enquanto não se agrava o impacto no mercado de petróleo e gás, tal disputa teria um potencial destruidor para todo o mundo. Talvez dessa dinâmica vá emergir uma nova etapa do conflito sino-americano, com Moscou alinhada a Pequim.

A Rússia ainda respira sem precisar do oxigênio chinês, mas isso pode mudar, colocando mais pressão sobre Xi para que assuma o papel que já poderia exercer agora —o de mediador de uma paz possível.

editoriais@grupofolha.com.br

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