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Drama argentino

Disparada da inflação expõe obstinação com políticas fracassadas no país vizinho

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Protesto contra o FMI em Buenos Aires - Marcos Brindicci/AFP

A América Latina é a região do mundo que menos deve prosperar em 2022, exceção feita ao Leste Europeu, afetado pela guerra, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesse cenário, as economias de Argentina e Brasil são aquelas que, entre as maiores do subcontinente, tiveram o pior desempenho desde 2014.

No período, o PIB argentino encolheu 4,1%, e o do Brasil, 1,6%. Nos casos mais bem-sucedidos estão Paraguai, com expansão de 26,2%, Bolívia (23,8%), Colômbia (21,6%), Peru (20,2%) e Chile (18,1%).

Nota-se que características comuns dos países da região, como a dependência de commodities ou o tumulto político, não determinam o resultado econômico. A hipótese de que nações mais pobres podem se beneficiar de algum bônus na transição para a renda média também parece pouco explicar, vide os casos de Chile e Colômbia.

A obstinação com políticas fracassadas é uma explicação parcial, mas forte, em casos como o argentino e o brasileiro. O país vizinho padece desse mal faz décadas.

Buenos Aires firmou neste ano novo acordo com o FMI, o 22º desde que se juntou ao organismo em 1956 —um a cada três anos, em média. De modo recorrente, sua economia passa por crises de endividamento externo que terminam em insolvência iminente.

Como alternativa ao financiamento em moeda estrangeira, imprime dinheiro, vivendo sob inflação alta, ora na casa dos 55% ao ano. Só no mês passado, os preços subiram desastrosos 6,7%.

A crise mais recente ocorreu em 2018, com o surto de endividamento do governo centro-direitista de Maurício Macri. A partir daí, acertou um um pacote de US$ 57 bilhões com o FMI, o maior da história. À beira da inadimplência, em março, refinanciou o débito.

Como sempre, as condições dos arranjos são a redução do déficit e de subsídios de tarifas públicas, o fim de tabelamentos de preços, o controle da inflação, com alta das taxas básicas de juros, ora negativas, e reformas básicas.

Em tese, por três ou quatro anos, haveria folga nos pagamentos da dívida. Mas duvida-se que o esquerdista Alberto Fernández queira ou possa cumprir o acordo.

O governo perdeu as eleições legislativas do final de 2021. A coalizão no poder está dividida quanto às condições do FMI, é impopular e vai enfrentar dura eleição geral em 2023. As reformas parecem adiadas para o governo seguinte, quando a Argentina se arriscará a um novo surto de sua crise crônica.

editoriais@grupofolha.com.br

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