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Cuba desumana

Condenação de manifestantes a penas absurdas mostra um regime ditatorial acuado

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Manifestante é preso em protesto em Havana contra o regime - Yamil Lage - 11.jul.21/AFP

A brutal reação da ditadura cubana à onda de insatisfação popular que tomou a ilha em julho do ano passado deveria —embora provavelmente não vá— desfazer quaisquer ilusões ainda alimentadas pelos simpatizantes do regime.

Manifestantes que, de forma majoritariamente pacífica, foram às ruas de Havana e outras dezenas cidades para expressar seu descontentamento com a falta de liberdade e as condições de vida precárias no país caribenho terminaram sujeitos a penas absurdas que podem chegar a 30 anos de prisão.

Conforme deu a conhecer recentemente o Tribunal Supremo de Cuba, 128 participantes dos protestos já foram condenados sob a acusação de crimes contra a segurança do Estado e colaboração com forças estrangeiras.

É particularmente chocante o expressivo contingente de jovens entre os apenados. De acordo com entidades ligadas aos direitos humanos, mais de 40 menores de idade já foram alvo de condenações, em muitos casos a períodos superiores a 15 anos de reclusão.

Acrescentam-se a isso denúncias das mais diversas formas de tortura dentro das penitenciárias, como o uso de choques elétricos, além de privação de luz e comida. Dos cerca de 1.400 cubanos presos após a manifestação de 11 de julho, 728 seguem encarcerados.

A severidade descomunal das sentenças dá a elas um caráter exemplar e constitui um recado claro a todos os moradores da ilha: quem se envolver com protestos, dissidências ou agitações de qualquer espécie arrisca-se a ser condenado por sedição e mofar por décadas atrás das grades.

Essa estratégia do medo pode até surtir efeito de início —e a oposição, de fato, encontra-se atualmente fragmentada, como mostrou reportagem da Folha.

Uma parte dos ativistas aposta na via institucional, isto é, a tentativa de liberação dos presos políticos por meio de uma anistia, obtida por caminhos legais. Diversos líderes dos movimentos por trás dos protestos deixaram o país. Os que defendem soluções menos moderadas se recolhem, temendo novas ondas de punições.

Entretanto nenhuma medida repressiva tem o poder de acabar com o mal-estar social que grassa entre os cubanos; nenhuma sentença judicial pode estrangular o legítimo desejo de uma vida melhor.

Em sua reação desmesurada, a ditadura comunista mostra que, debaixo da aparente demonstração de força, há na verdade um regime acuado e em desespero, incapaz de oferecer às demandas de uma população asfixiada pela ruína econômica outra resposta que não violência e mais injustiça.

​editoriais@grupofolha.com.br

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