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Catástrofes em série

Tragédias como a do Recife exigem controle geológico e planejamento habitacional

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Rua alagada no Recife (PE) - João Carlos Mazella/Fotoarena/Agência O Globo

Os temporais que castigam a região metropolitana do Recife (PE) desde a semana passada já produziram, até esta segunda (30), o trágico saldo de 91 mortos. Há ainda 26 pessoas desaparecidas em meio aos deslizamentos de terra, bairros alagados, aulas suspensas e cerca de 5.000 desabrigados no estado.

A possibilidade de mais chuva e o solo encharcado preocupam as autoridades pelo risco de novos desmoronamentos; o acúmulo de lama em ruas e estradas dificulta o trabalho das equipes de socorro.

Por ora, além das ações emergenciais com o estado e a União nas operações de busca e acolhimento de desalojados, a Prefeitura do Recife acertadamente anunciou o cancelamento das festividades juninas —o que acarretará, segundo a gestão, um aporte de R$ 15 milhões às famílias atingidas.

O cenário de calamidade na região em muito se assemelha a tragédias naturais recentes no país. De dezembro para cá, incluindo o Grande Recife, os óbitos decorrentes de chuvas no sul da Bahia, no norte de Minas Gerais, na Grande São Paulo e em Petrópolis (RJ) contam-se às centenas.

Em comum, são brasileiros em alto grau de vulnerabilidade social, vivendo precariamente em morros e encostas e à beira de rios.

Não estavam lá porque "faltou visão", como chegou a sugerir o presidente Jair Bolsonaro (PL) à época da intempérie paulista. Muitas dessas vítimas foram empurradas para as áreas de risco, seja por falta de planejamento urbano e habitacional, seja pela vista grossa de autoridades mais interessadas em dividendos políticos e eleitorais.

O agravamento das mudanças climáticas pode tornar eventos do tipo —precipitações intensas e localizadas em curto intervalo de tempo— ainda mais recorrentes.

Cumpre um esforço nacional para mapeamento de regiões de maior risco topográfico, retirada de famílias e oferta de moradias dignas; implantação de sistemas de alerta com ampla divulgação e evacuação prévia da população; controle de áreas sensíveis e fiscalização a fim de evitar novas ocupações.

Após sobrevoar as localidades atingidas, Bolsonaro criticou o adversário político e governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), por não tê-lo procurado para discutir providências de mitigação da crise. "Se o governador estava fazendo outra coisa, eu não sei", disse.

A gestão estadual, por sua vez, declarou que "o presidente não falou com o governador" e que Câmara não foi informado da visita nem "convidado para nenhuma reunião com os ministros" de Bolsonaro.

"Infelizmente, essas catástrofes acontecem", resumiu de forma simplória o presidente. Sem dúvida —e mais ainda quando as autoridades são omissas ou oportunistas.

editoriais@grupofolha.com.br

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