A campanha eleitoral nem começou, mas o cenário de tensão política já provoca notícias incômodas acerca do pleito de outubro.
Na terça-feira (31), a Polícia Federal apresentou um esquema de proteção inédito para os candidatos à Presidência da República. Entre outros pontos, planeja-se criar um grupo de inteligência e definir uma metodologia para identificar riscos a cada um dos postulantes.
Reportagem desta Folha mostrou como a preocupação com a segurança tem levado o PT a adaptar as agendas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma semana antes, soube-se que uma palestra a ser realizada em Bento Gonçalves (RS) foi cancelada porque, após pressão de bolsonaristas, a organização do evento passou a temer pela segurança do conferencista —ninguém menos que Luiz Fux, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal).
O pano de fundo comum aos episódios é a polarização entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Os dois, segundo o mais recente Datafolha, mantêm folgada distância dos demais competidores.
Sozinha, contudo, essa variável não explica muito. Diversas disputas presidenciais entre o PT e o PSDB começaram e terminaram sem que o nível de preocupação com a truculência de manifestantes chegasse aos patamares atuais.
O que mudou? Para a PF, ao menos dois elementos são novos: o histórico do pleito de 2018, quando Bolsonaro levou uma facada, e a ampla disseminação das redes sociais, que não só ampliam os canais de mobilização como estimulam um clima de hostilidade.
A agressividade que o próprio presidente da República alimenta contra instituições poderia ser acrescentada a essa equação.
Não se pode menosprezar o retrocesso representado por esse clima de violência. Ele ameaça uma grande qualidade da democracia, que é permitir disputas pelo poder e resolvê-las de forma pacífica.
Se há uma boa notícia nesse quadro é que a PF se mostra disposta a agir. Espera-se que ela e todas as forças de segurança cumpram o compromisso constitucional de preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, mantendo-se distantes das paixões políticas.
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