Longe dos aplausos de empresários e investidores animados com suas palavras, o ministro Paulo Guedes (Economia) frequentemente consulta o saldo de sua imagem e a do governo no debate público e observa uma conta ainda no vermelho.
O ministro costuma culpar elementos externos ao campo de atuação do ministério pela falta de reconhecimento público —como, por exemplo, a briga no campo político (o "barulho") que estaria contaminando as visões e descredenciando moralmente a mídia tradicional, outras instituições e economistas críticos. Como se o bloco P da Esplanada fosse uma ilha independente do restante do governo.
Se o ministro tem méritos na condução da pasta e às vezes procura se distanciar do tumulto político ao tentar apagar incêndios e abrir espaço ao diálogo, o silêncio e a hesitação observados diante de certos discursos vindos do Palácio do Planalto deveriam acender um alerta para quem é preocupado com a reputação —se não como um liberal, ao menos como alguém interessado em manter premissas minimamente civilizadas em nossa sociedade.
A insistência do presidente da República em alimentar desejos por retrocessos democráticos, representada em seu grau máximo atualmente pelos ataques infundados ao sistema eleitoral e sua tara pela ditadura (que, a reboque, traz prisões políticas, torturas, atentados, sequestros e mortes), ganha a cada dia maior cumplicidade daqueles que o rodeiam.
Uma democracia demanda não apenas vigilância, mas também que cada ator faça o que está ao seu alcance para impedir o ovo da serpente do degringolamento institucional ou de coisas ainda piores de eclodir. Nesse sentido, Guedes, com a autoridade que tem no Palácio do Planalto, poderia fazer muito.
E, moralmente, deve. Enquanto não agir de forma efetiva para afastar o ímpeto ditatorial que habita o ideário distópico de Bolsonaro, Guedes dificilmente terá o respeito que tanto almeja na esfera pública.
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