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O que a Folha pensa forças armadas

Silêncio injustificável

Para não reforçar farsa, Defesa deve revelar resultado de teste com urnas

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Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, conversa com Jair Bolsonaro durante cerimônia do Dia do Soldado, em Brasília - Lucio Tavora/Xinhua

Desde sua concepção, a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência em 2018 estava imbuída do desejo do hoje mandatário de misturar seu passado militar com o prestígio das Forças Armadas.

Apesar do histórico salvacionista, que remonta à fundação da República, os militares gozavam de boa imagem, associada ao profissionalismo que emergiu das suas fileiras nos anos da redemocratização.

Capitão reformado de carreira controversa, o então deputado era visto na cúpula da Defesa como mero sindicalista verde-oliva.

O candidato que encarnou o antipetismo e a antipolítica há quatro anos acabou adotado por influentes generais da reserva, que o viam como veículo manobrável. Com a bênção da chefia do Exército, Bolsonaro agregou o grupo e outros tantos da ativa a seu governo.

O resto é uma história conhecida de desgaste institucional, alternando benesses e crises, culminando na implosão de toda a cúpula militar em 2021. As fronteiras a isolar o serviço ativo da retórica golpista bolsonarista ficaram mais turvas.

De lá para cá, um ministro da Defesa, Walter Braga Netto, tornou-se candidato a vice-presidente pelo mesmo PL do chefe, e o atual, o também general da reserva Paulo Sérgio Nogueira, instrumento contra o sistema eleitoral.

Para desagrado de oficiais-generais, Nogueira embarcou no questionamento das urnas, até permitido pelo Tribunal Superior Eleitorial.

Em 2021, a corte aplicou uma regra aprovada dois anos antes e convidou militares a participar de uma comissão de transparência dos pleitos. Criou-se a confusão.

Dúvidas técnicas se multiplicaram e se converteram em munição para Bolsonaro, que arrastou também seu partido para a ofensiva. Presidente do TSE, Alexandre de Moraes buscou contemporizar, cedendo aos fardados e permitindo que fizessem duas checagens adicionais no primeiro turno.

Numa delas, 385 boletins de urnas foram fotografados, tendo seu resultado cotejado com os dados enviados a Brasília. Noutra, até 10% das 640 urnas foram submetidas a testes de integridade e seus sistemas de biometria avaliados.

Ainda não houve manifestação da Defesa acerca do resultado aferido. Como não se trata exatamente de cálculo de física quântica, a demora levou o Tribunal de Contas da União (TCU) a cobrar explicações.

Não por acaso, Bolsonaro, que segue atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa, voltou a questionar o sistema eleitoral e conclamou seus apoiadores a fazerem cercos a pontos de votação, ecoando a tática de Donald Trump que levou à invasão do Capitólio.

Não há novidade no fato de que o presidente é afeito a golpismos. Mas o silêncio dos militares é injustificável, por permitir a leitura de que são coadjuvantes na farsa.

editoriais@grupofolha.com.br

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