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Ensino sem papel

Medida que abandona livro didático impresso em SP é abrupta e pouco transparente

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Renato Feder, secretário de Educação de São Paulo - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Políticas públicas devem se basear em evidências e ser decididas de forma transparente, de preferência incorporando consultas a especialistas e setores da sociedade.

Não é o que se vê na recente decisão da Secretaria de Educação de São Paulo de abandonar livros didáticos impressos a partir do 6° ano do ensino fundamental. De 2024 em diante, como revelou a Folha, o material será totalmente digital e produzido pela pasta.

Para isso, o governo paulista recusou exemplares do Programa Nacional do Livro Didático, que são selecionados por especialistas, comprados pelo MEC e distribuídos para escolas de todo o país.

As justificativas do secretário de Educação, Renato Feder, para dispensar esse acervo pedagógico gratuito são as de que o catálogo do PNLD estaria defasado e seria superficial, enquanto o conteúdo digital seria mais atraente.

Ademais, a uniformização do conteúdo e das aulas facilitaria o trabalho docente e melhoraria o aprendizado, que seria testado por provas padronizadas. Os argumentos merecem debate; a forma como se tomou a medida, porém, é sem dúvida problemática.

Há muito açodamento e pouca transparência. Uma política que impactará 1,4 milhão de estudantes paulistas no ensino fundamental e 1,3 milhão no médio não deve ser implementada de forma abrupta e sem consulta pública. O governo estadual também não especifica qual será o processo de criação e avaliação do material didático.

Segundo pesquisadores, nenhum país que faz amplo uso de recursos digitais abandonou completamente os livros físicos. O modelo mais comum, aponta-se, é o híbrido.

De acordo com o Relatório Global de Monitoramento da Educação da Unesco deste ano, não há evidências científicas suficientes a respeito dos benefícios da tecnologia digital na educação.

Há, sim, associação negativa entre o uso exagerado de aparelhos digitais e o desempenho dos alunos —sem contar a relação entre transtornos cognitivos e de humor em jovens com o uso de telas (celulares, tablets e computadores).

Por fim, a nova regra pode aprofundar desigualdades, dado que nem todas as escolas possuem a mesma infraestrutura tecnológica e nem todos os alunos têm acesso aos dispositivos em casa —como ficou claro durante a pandemia.

O governo paulista tem opções como fazer testes em pequena escala de sua estratégia ou prever uma implementação gradual. A aposta em uma reviravolta, sem fundamentação mais sólida, afigura-se uma temeridade para os alunos.

editoriais@grupofolha.com.br

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