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África do Sul em transição

Perda de força do CNA faz parte do jogo democrático, mas extremismo é temerário

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Apoiadores do CNA seguram foto de Nelson Mandela durante evento do partido para as eleições deste ano, em Durban (África do Sul) - Rajesh Jantilal - 24.fev.24/AFP

Sul-africanos irão às urnas no final deste mês, numa eleição que pode pôr fim à hegemonia do Congresso Nacional Africano (CNA), o partido de Nelson Mandela que fez a transição do regime de apartheid para a democracia e tem chegado ao poder com folga desde 1994.

O presidente do país é escolhido pelo Parlamento, e as maiorias obtidas pelo CNA vêm diminuindo a cada pleito. Agora, as pesquisas sugerem que, pela primeira vez, a sigla poderá ficar com menos de 50% da Assembleia Nacional, o que a obrigaria a fazer alianças.

Surpreende que tenham sido necessários 30 anos para que isso ocorresse, já que o desgaste do poder é uma constante nas democracias. Na África do Sul, essa tendência é reforçada por 15 anos de estagnação econômica e níveis epidêmicos de corrupção e clientelismo.

Mas, ao que tudo indica, o CNA continuará sendo o maior partido do país. Razões para tal resiliência incluem subsídios governamentais —27 milhões dos 60 milhões de habitantes recebem algum benefício— e o respeito à história do partido e à figura de Mandela.

Apesar dos graves problemas, a África do Sul é hoje uma democracia consolidada. Ademais, nos primeiros 15 anos de gestão do CNA, houve grande incremento econômico e social, em especial para a maioria negra. Só que os avanços, mesmo incontestes, não chegaram perto de apagar as divisões raciais.

Esse cenário favorece o surgimento de discursos populistas, quando não extremistas. Novas lideranças acusam traição de Mandela, que teria cedido muito aos brancos e, assim, impedido o enriquecimento dos negros.

São partidos com essa retórica, como o MK do ex-presidente Jacob Zuma —que deixou o CNA sob acusações de corrupção— e o ultraesquerdista Combatentes da Liberdade Econômica, que devem crescer mais, impulsionados pelos votos dos mais jovens.

Será temerário, até mesmo para a economia, se a negociação e a tolerância que consagraram Mandela perderem muito espaço para o radicalismo. O problema é que, como mostram eleições em diversos países nos últimos anos, o extremismo populista se fortaleceu.

editoriais@grupofolha.com.br

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