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Políticas de promoção da saúde: vivas, ativas e ainda mais necessárias

Demandas vão além dos processos de adoecimento biopsicológicos e políticos

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A crise dos sistemas de saúde pelo mundo afora exige a adoção da ampliação do conceito de saúde e de práticas sanitárias renovadas. O SUS brasileiro não pode ficar fora dessa equação. Nesse contexto marcado pela complexificação das ações e demandas para o SUS, é urgente afirmarmos e defendermos políticas de promoção da saúde que sejam vivas e ativas.

O ato de promover saúde significa problematizar os projetos de sociedade e o seu modo agressivo de produção. É preciso enfrentar os interesses econômicos das grandes corporações alimentícias do Norte Global e seus determinantes comerciais que interferem na escolha saudável das pessoas, a hiperexploração dos recursos naturais e modelos de monoculturas agrícolas exportadoras que alimentam o ciclo finito e vicioso do mercado financeiro. Essas e outras camadas de complexidade levam, sinergicamente, a romper o equilíbrio climático em decorrência do antropoceno —conhecido como a época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra.

Ademais, promover saúde implica também construir alternativas que passam pelo processo de outras formas de convivência, a partir do Sul Global. Consiste em construir políticas colaborativas e solidárias para fins coletivos e de proteção da sociobiodiversidade, como sistemas agroflorestais de base comunitária e da economia circular, que ultrapassam o imediatismo, o economicismo predatório, o pragmatismo político enviesado. Incorpora a valorização dos conhecimentos originários, sinérgico à visão do bem viver que questiona o conceito eurocêntrico de "bem-estar" e apresenta um posicionamento de "bem-ser".

Representa ainda uma forma de desenvolvimentismo menos antropocentrista e mais humana e amigável com os direitos da mãe natureza, ou seja, sem separação entre os seres humanos e não humanos.

Promover saúde é reconhecer, ainda, que as demandas da sociedade vão para além dos processos de adoecimento biopsicológicos e políticos. Novos olhares para a saúde passam pela incorporação das medicinas indígenas originárias, como práticas integrativas complementares brasileiras e ainda não reconhecidas pela Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), da felicidade, da ética, do respeito às diversidades, da humanização, da corresponsabilidade, da justiça e da inclusão social como valores fundantes no processo de sua concretização do sistema de saúde universal brasileiro.

O recente "Encontro de Mobilização da Promoção da Saúde – Em Prosa Brasil" deu ênfase para as políticas de promoção da equidade e mostrou o vigor da produção acadêmica nos estudos de avaliabilidade da PNPS nas cinco regiões brasileiras; nas recomendações para a implementação da intersetorialidade; nos dispositivos formativos para disseminar a cultura e os métodos de monitoramento e avaliação de políticas públicas; na síntese de evidências e nos processos de educação permanente que favorecem a implementação da PNPS.

E, sendo assim, apoiamos políticas que desenvolvam as liberdades coletivas com base nos valores da democracia, da sustentabilidade ambiental, da cultura da paz e não violência, com respeito ao diverso social e às concepções pluriversas religiosas-espirituais entre os povos e as pessoas. Esses princípios situam os modos de ver a saúde como bem público não mercantilizável.

Em busca de práticas sanitárias renovadas, a política de promoção da saúde brasileira defende e reafirma a sua condição de ator coletivo que reflete, propõe e induz políticas mais vivas e ativas, apontando estrategicamente para horizontes de um SUS mais universal, equânime e justo.

Marco Akerman
Faculdade de Saúde Pública da USP

Cristianne Famer Rocha
UFRGS

Dais Rocha
UnB

Julia Nogueira
UnB

Kênia Lara
UFMG

Maria do Socorro Araújo Dias
Universidade Estadual Vale do Acaraú (CE)

Nilza Rogéria Nunes
PUC-Rio

Rodrigo Tobias
Fiocruz Amazônia

Rosilda Mendes
Unifesp Baixada Santista

TENDÊNCIAS / DEBATES
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