Descrição de chapéu
O que a Folha pensa indígenas

É Lula quem responde por yanomamis agora

Mesmo que tenha havido subnotificação anterior, mortes de indígenas em 2023 põem em xeque efetividade de ações na região

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Crianças indígenas tratam desnutrição em abrigo de unidade de saúde da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. - Lalo de Almeida/ Folhapress

Uma das primeiras ações de grande visibilidade do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em janeiro do ano passado, foi a operação deflagrada para enfrentar a emergência de saúde na Terra Indígena Yanomami. Dados recém-noticiados, porém, põem em xeque a efetividade das medidas adotadas.

Descobriu-se que houve 363 mortes de yanomamis e outras etnias presentes no território em 2023. A cifra macabra —que ultrapassa as de 2022 (343) e de anos anteriores sob Jair Bolsonaro (PL)— veio à tona após uma reportagem da revista Oeste, que se valeu da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Autoridades de saúde dizem considerar inadequada uma comparação direta das estatísticas, e superficial a conclusão de que a situação piorou —haveria, apontam, uma subnotificação de casos e mortes no período anterior.

Por esse raciocínio, operam hoje naquela região 40% mais equipes de saúde. Casos e vítimas que passaram ou passariam despercebidos terminaram registrados, inflando o cômputo. A tese pode ser plausível, mas o governo continua tendo muito a explicar.

O garimpo ilegal de ouro e cassiterita, principal motor da tragédia yanomami, recrudesceu antes mesmo de completar-se um ano das iniciativas de Brasília.

Estima-se que continuem em ação no território cerca de 3.000 garimpeiros. Bem menos que os 20 mil antes da troca de governo, mas o suficiente para dificultar ou impedir de vez a ação de agentes de fiscalização ambiental e atenção de saúde em áreas mais remotas, como Surucucu e Auaris.

A presença de invasores e a devastação de florestas e igarapés favorecem a proliferação de malária. Já desnutridas pela falta de assistência, crianças indígenas vão sucumbindo a doenças antes que se cumpra sua remoção para centros de tratamento adequados.

Segundo apuração deste jornal, as Forças Armadas passaram a encolher o apoio logístico a equipes do Ibama e do Ministério da Saúde. A desativação de um entreposto de combustível na região do Palimiú, por exemplo, impediu helicópteros do Ibama de alcançar Auaris, na fronteira com a Venezuela.

A presença efetiva do Estado num território tão vasto quanto o dos yanomamis, do tamanho de Portugal, não é empreendimento trivial. Os retrocessos que ora se constatam são evidências de que o planejamento do combate ao garimpo e da atenção de saúde, ali, carece de coordenação e sustentação.

Não há dúvida de que Bolsonaro tratou o tema com descaso, se não hostilidade. Agora, entretanto, enfrentar esse déficit civilizacional é responsabilidade de Lula.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.