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Trump e o impensável

Julgamento começa a tornar plausível que um condenado conquiste a Casa Branca

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Donald Trump, ex-presidente dos EUA, no tribunal criminal de Nova York - Mary Altaffer - 16.abr.24/Pool via Reuters

Se um criminoso condenado for eleito presidente dos EUA, a sede do governo deixa de ser a Casa Branca e passa a ser o presídio onde cumpre pena? Ele poderia perdoar a si mesmo para sair da cadeia?

Tais perguntas, que até há pouco tempo teriam ar surrealista, começam a se tornar plausíveis diante da possibilidade de Donald Trump, que responde a quatro processos na Justiça, ser eleito presidente.

A única dessas ações que será certamente concluída antes do pleito de novembro começou a ser julgada nesta semana em Nova York.

Nela, Trump é acusado de ter cometido fraudes contábeis ao pagar uma atriz, com a qual supostamente teve um relacionamento sexual, para ficar calada durante a campanha de 2016 e, assim, evitar um escândalo que afetasse sua imagem.

Remunerar o silêncio de alguém não é em princípio crime, ainda que levante questões éticas. Mas Trump o fez por meio de um esquema em que possivelmente infringiu leis tributárias e de financiamento de campanha.

O problema é que nem a Constituição dos EUA nem a legislação federal colocam grandes empecilhos à eleição de um condenado. Outro detalhe insólito: se for sentenciado, Trump não poderá votar em si mesmo, já que está registrado como eleitor da Flórida, estado que proíbe condenados de votar.

Mais grave, entre as acusações contra Trump, está a de tentar fraudar o sistema eleitoral para não ter de deixar o cargo de presidente.

Uma emenda constitucional introduzida após a Guerra Civil impede pessoas que tenham participado de "insurreições ou rebeliões" de assumir cargos federais.

Mas a Suprema Corte já determinou que esse recurso não é autoaplicável —só poderá ser acionado se o Congresso estabelecer em lei como isso pode ser feito, o que certamente não ocorrerá até o pleito.

Se o cenário com um condenado eleito na Casa Branca se materializar, as questões que surgirem terminarão na Suprema Corte, que tende a favorecer o ex-presidente.

A melhor chance de os americanos se pouparem desses constrangimentos é não reelegerem uma figura tão extremista, divisiva e problemática como Trump.

editoriais@grupofolha.com.br

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