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O que a Folha pensa Estados Unidos

A cartada da imigração

Com controverso decreto que bloqueia fronteira, Biden busca vitória contra Trump

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Joe Biden, presidente dos Estados Unidos - Mandel Ngan/AFP

O democrata Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, assinou há poucos dias um decreto para bloquear temporariamente a concessão de refúgio a imigrantes ilegais vindos da fronteira com o México. A medida contradiz a cartilha de seu partido e sua promessa, no primeiro dia na Casa Branca, de garantir cidadania aos indocumentados.

Está em jogo, nesse caso, a eleição presidencial em novembro. Para derrotar Donald Trump, Biden mostra-se disposto a sacrificar suas convicções sobre o tema da imigração e sua coerência política.

O mesmo instrumento do decreto fora usado por Trump ao adotar medidas draconianas em 2017, quando famílias de imigrantes foram separadas, com adultos enjaulados em instalações improvisadas e crianças espalhadas em instituições pelo país.

Em discurso, Biden prometeu que isso não se repetirá. "Eu nunca vou demonizar os imigrantes", afirmou.

Fato é que, na contramão de compromissos internacionais assumidos pelos EUA, negará a estrangeiros o direito de solicitar refúgio ou asilo político.

O decreto prevê o bloqueio da fronteira sul à imigração quando o ingresso de indocumentados superar a média diária de 2.500 pessoas no período de uma semana, e sua suspensão quando a mesma média cair para 1.500. Não há, porém, expectativa de redução do fluxo para tal nível. A medida tende a tornar-se permanente.

Biden contrariou as alas mais liberais de seu partido, mas deve ter considerado que não perderá votos desse eleitorado diante da ameaça de Trump retornar à Casa Branca mesmo na condição de condenado recentemente pela Justiça.

De outro lado, o decreto deve agradar a eleitores independentes incomodados com o fluxo migratório. Atrair esse estrato nos estados onde nem democratas nem republicanos cantam vitória neste momento, como Arizona e Nevada, pode ser crucial para a reeleição.

Não deixa de espantar, de todo modo, o cálculo que reduz o complexo quadro de imigração nos EUA a mera munição eleitoral. Uma jogada que pode ajudar a vitória de Biden nas urnas, mas também macular sua trajetória política.

editoriais@grupofolha.com.br

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