Biden perde o debate pós-debate

Confusão na Casa Branca, no partido, na família e na campanha amplificam desastre do presidente

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Fernanda Perrin
Fernanda Perrin

Correspondente nos EUA, foi editora-adjunta de Mercado. É mestre em ciência política pela USP.

O desastre de Joe Biden no debate da semana passada parecia insuperável. Talvez por solidariedade ao presidente, Casa Branca, campanha, partido e até sua família mostraram nos últimos dias que dá, sim, para ficar pior.

Começando de baixo para cima, democratas estão desnorteados. O baixo clero do partido no Congresso já começou a abandonar o navio. Em público, lideranças tentam acalmar os ânimos, mas ressentem-se da demora de Biden em acalmá-los.

Biden e Trump no debate da CNN - CNN/Xinhua

Apenas na quarta, quase uma semana depois da bomba, o presidente telefonou. Governadores conseguiram uma reunião na Casa Branca após alguém vazar na imprensa que estavam consternados com o silêncio de Washington.

Os Bidens, por sua vez, saíram em defesa de seu patriarca e colocaram a culpa na campanha —até uma lista de cabeças que teriam sido pedidas começou a circular. A campanha, sem ter muito mais para onde apontar o dedo, recorreu ao seu inimigo preferido.

Donald Trump? Não. A imprensa, que devolve a bola para a Casa Branca: isso é o que acontece quando vocês isolam o presidente por três anos e meio.

É verdade que a crise que se abateu sobre os democratas após Biden mal conseguir completar frases inteiras no debate é sem precedentes, mas, vista em conjunto, a reação caótica significa mais do que uma mera falta de manual: falta um presidente forte.

A resposta de Biden tem sido dobrar a aposta na mitologia pessoal de ser um azarão, um lutador que se reergue após ser derrubado. O presidente parece não ter entendido que o cerne da dúvida não paira sobre a fábula tanto quanto sobre seu protagonista.

O silêncio da Casa Branca, o descontrole sobre a base partidária e a rixa pública entre familiares e campanha parecem confirmar na prática a imagem de fragilidade e confusão vista em Atlanta. Biden perdeu o debate e, talvez mais importante, está perdendo o debate que se instaurou desde então.

Sim, pesquisas de opinião feitas nos últimos dias não mostraram, até agora, mudanças significativas na visão do eleitorado. Mas, longe de ser um alívio para democratas, o que elas fazem é confirmar, a quatro meses do pleito, o que americanos têm afirmado consistentemente há meses, se não anos: não queremos Biden nem Trump.

A tarefa básica do presidente no debate era calar as acusações de que está velho demais para o cargo, na esperança de se tornar uma alternativa mais palatável em comparação ao adversário. Tudo o que aconteceu desde o fracasso dessa missão parece reforçar o contrário.

Embora no discurso Biden esbraveje que vai se levantar da queda, ele segue no chão. Qual o limite entre resiliência e teimosia?

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