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O que a Folha pensa Eleições EUA

Desastre de Biden em debate eleva riscos

Presidente se perde ante enxurrada de mentiras do rival, cuja vitória significa instabilidade doméstica e global

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Imagem mostra dois homens idosos de terno escuro e gravata, cada um atrás de um púlpito em um estúdio com as palavras CNN e debate presidencial
Donald Trump e Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, durante debate eleitoral, em Atlanta (EUA) - Christian Monterrosa - 27.jun.24/AFP

Uma das instituições basilares da democracia, o debate eleitoral é objeto de atenção extra devido a um episódio da crônica política mundial, o enfrentamento de 1960 entre John F. Kennedy e Richard Nixon.

Naquele primeiro duelo de presidenciáveis televisionado, o jovial e midiático JFK superou o rival de forma inequívoca. Nixon aprendeu a lição, tanto que elegeu-se duas vezes presidente depois, para renunciar em desgraça em 1974.

O impacto daquele debate reverberou por décadas, levando à crença de que o desempenho dos participantes define eleições. Casos análogos na periferia do Ocidente, como Fernando Collor versus Lula em 1989, reforçaram a mística.

Nos últimos anos, predominaram a profissionalização da política e a diluição argumentativa decorrente da inundação virtual de verdades fabricadas. Candidatos são treinados para não escorregar, e o empate quase sempre é a regra.

Não foi o que ocorreu na noite de quinta (27) em Atlanta, onde a rede CNN colocou frente a frente o presidente Joe Biden e seu antecessor, Donald Trump, que busca voltar à Casa Branca em novembro.

O democrata sofreu uma implosão de imagem, reforçando temores acerca de suas condições físicas e mentais para seguir no cargo.

Mostrando fragilidade, agravada por um alegado resfriado, Biden perdeu-se em respostas até corretas, mas não convincentes. Parecia que ficaria paralisado, fazendo sua equipe prender a respiração nas coxias do evento.

Trump foi o oposto. Apenas três anos mais novo do que Biden, aos 78 anos, demonstrou vitalidade inaudita no ocaso de seu governo. Pior para a democracia, dado que usou a linguagem corporal e a oratória afiadas para exercitar o pior que seu populismo pode oferecer.

Mentiu sobre dados econômicos e até sugeriu que estados democratas promovem o sacrifício de crianças. Esquivou-se de questões mais espinhosas mudando de assunto, expondo a falha do formato adotado pela rede americana, que não permitia contestações incisivas de fake news à mesa.

De modo alarmante para países em que a polarização segue viva, como o Brasil, o debate evidenciou a dificuldade da política tradicional de enfrentar o extremismo quando não há paridade de armas.

Nem mesmo a recente condenação penal de Trump afetou sua exibição. Ato contínuo, já surge o clamor para que Biden desista da candidatura. Parece tarde para tanto, e o real impacto da debacle do democrata ainda precisa ser aferido entre os vitais eleitores indecisos.

O mundo assiste apreensivo ao desenrolar do drama, ciente de que um novo governo Trump é garantia de instabilidade geopolítica e celebração de métodos autocráticos.

editoriais@grupofolha.com.br

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