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O que a Folha pensa mudança climática

Entre desastres, 97% percebem crise do clima

Maioria diz notar aquecimento global, mostra Datafolha; governos devem aproveitar opinião para criar planos de adaptação

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Automóveis em rua inundada pelas chuvas em Eldorado do Sul (RS) - Amanda Perobelli - 13.mai.24/Reuters

Faz décadas que cientistas apontam o aquecimento global como consequência da poluição emitida por seres humanos. Mas parcela da opinião pública em países como o Brasil alimentava dúvidas sobre a confiabilidade de evidências e predições quanto aos impactos da mudança —não mais, parece.

Pesquisa Datafolha aponta haver quase unanimidade na convicção de que a alteração climática é uma realidade: 97% dos entrevistados afirmam perceber no dia a dia a transformação na atmosfera do planeta. Meros 2% negam a existência da crise no clima, e 1% não soube responder.

Para efeito de comparação, apenas 61% dos norte-americanos dizem ver suas comunidades afetadas pela mudança do clima, segundo pesquisa Pew de 2023.

Podem-se aventar algumas explicações para os números no Brasil. O consenso entre pesquisadores, com acúmulo de medições e o descrédito dos discordantes, poderia ter contribuído para conduzir o público ao entendimento.

Mostra-se plausível, contudo, que essa vitória da objetividade sobre os semeadores de dúvidas tenha recebido impulso de eventos climáticos extremos, como a tragédia recente que se abateu sobre a população gaúcha. As inundações, que causaram 179 mortes, repetiram desastres ocorridos ainda em 2023 naquela região.

No Carnaval do ano passado, 64 pessoas perderam a vida nos deslizamentos de morros em São Sebastião (SP). A chuva que desabou em 24 horas na praia Barra do Sahy é comparável à registrada em trechos da caatinga num ano inteiro.

A frequência de fenômenos atmosféricos que escapam das médias aferidas ao longo de décadas e séculos vem corroborar o acerto dos modelos climatológicos ao projetar efeitos do aquecimento global. Mais energia injetada na atmosfera impulsiona tempestades e estiagens bem mais severas.

Outro exemplo lúgubre é a seca recordista que ora aflige o pantanal, a insuflar incêndios que arriscam ultrapassar os danos de 2020. Também há temor de que a temporada de queimadas na Amazônia, no segundo semestre, venha a revelar-se especialmente intensa.

Compete aos governos federal, estaduais e municipais tomar partido da sensibilidade pública para a crise e lançar campanhas de conscientização, reforçar a fiscalização em áreas de risco, combater queimadas ilegais e elaborar planos de adaptação ao aquecimento global e de prevenção contra os eventos extremos dele derivados.

editoriais@grupofolha.com.br

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