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O que a Folha pensa Banco Central

Inflação inspira mais cuidado, indica o BC

Gasto público e fim da ociosidade na economia dificultam queda de juros, o que o órgão indica e Lula se recusa a aceitar

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Prédio do Banco Central, em Brasília (DF) - Pedro Ladeira/Folhapress

O Banco Central e a política monetária continuaram a ser alvo de ataques insensatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevistas concedidas na semana passada.

O presidente da República disse não entender por que a taxa de juros está em 10,5% ao ano, entre outras diatribes, e sugeriu que tudo será diferente quando seu indicado assumir o comando da instituição.

Caso se disponha a ler o mais recente Relatório Trimestral de Inflação, divulgado na quinta (27), encontrará as razões para o arrocho persistente. Também descobrirá que as projeções de inflação para este ano e 2025 subiram desde a edição anterior, de março.

Poderá verificar, ainda, que os riscos para a gestão dos preços estão em alta, fato agravado por suas desastradas intervenções, que só dificultam o trabalho da instituição e nenhum ganho trazem —nem a seu governo nem ao país.

O documento traz duas atualizações em variáveis que influenciam a projeção do IPCA e, por extensão, a taxa básica de juros.

A primeira é a estimativa da chamada taxa Selic neutra, aquela que permite o alinhamento do crescimento da economia ao seu potencial e, ao mesmo tempo, da inflação à sua meta, hoje em 3% anuais.

Segundo o BC, esse indicador subiu de 4,5% para 4,75% —as várias metodologias e a coleta de projeções do setor privado sugerem patamar ainda maior, perto de 5%. Boa parte dessa alta advém dos gastos públicos, que impulsionam a demanda e a alta dos preços.

A consequência prática da conduta perdulária do Executivo é a necessidade de uma política monetária mais restritiva do que se previa para controlar a inflação.

A outra novidade do relatório é a avaliação de que não há mais ociosidade na economia. Antes, de acordo com as contas do BC, havia recursos não utilizados, e portanto espaço para expansão da atividade sem pressionar a inflação.

Juntando todas as influências, ficou mais difícil levar a inflação para a meta, ainda mais num contexto de juros internacionais mais altos do que se esperava antes. Até agora, o governo só fez atrapalhar e não há indicação de que Lula esteja disposto a mudar de rumo.

A boa notícia foi a formalização do novo padrão de cumprimento da meta de inflação, que segue em 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual, mas de forma contínua e desvinculada do ano-calendário.

Se o IPCA acumulado em 12 meses ficar acima do limite superior por mais de 6 meses, haverá descumprimento e, com isso, a necessidade de explicações pelo BC. Alterações só serão efetivadas com prazo mínimo de 36 meses.

Promove-se assim um aperfeiçoamento de natureza técnica. Resta eliminar o ruído político.

editoriais@grupofolha.com.br

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