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O que a Folha pensa União Europeia

Repúdio a imigrantes reflete desinformação

Rechaço à entrada de estrangeiros, usado pela ultradireita na Europa e nos EUA, ignora a importância deles para economia

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Imigrantes indianos trabalham em pomar de maçãs no distrito de Bragança (Portugal) - Patricia de Melo Moreira/AFP

Em eleições na Europa e nos Estados Unidos, o tema da imigração têm tido papel central. No velho continente, muitos dos partidos de ultradireita atenuaram discursos em relação a outras bandeiras, como rejeição à União Europeia, aborto e questões de gênero, para privilegiar o ataque à imigração.

Foram bem nas votações para o Parlamento Europeu e, em alguns países, assumiram o governo (Itália e Holanda) ou participam de coalizões governistas (Finlândia e Suécia). Mesmo onde acabaram não chegando ao poder, como na França, eles vêm se fortalecendo em pleitos nacionais.

Nos EUA, onde o Partido Republicano ainda insiste em temas como o aborto, a questão que mais toca os eleitores é a imigração.

A Folha mostrou que, pela primeira vez, a maioria dos americanos diz apoiar a construção de um muro na fronteira com o México. Cresce o número dos que afirmam que imigrantes são mais propensos a cometer crimes —tese que não encontra amparo nos registros policiais. E até imigrantes se dizem dispostos a votar em Donald Trump para controlar a imigração.

O caso ganha ares de paradoxo porque a imigração é a resposta mais óbvia para o problema da baixa natalidade que afeta boa parte do mundo desenvolvido.

A taxa média de fecundidade dos países da OCDE caiu de 3,3 filhos por mulher em 1960 para 1,5 em 2022. Para manter a população estável, o ideal seriam 2,1 filhos.

Tal fenômeno, se pode ser considerado boa notícia para o meio ambiente, gera impactos na previdência. É preciso que haja mais trabalhadores na ativa do que aposentados para que o sistema de seguridade social não colapse.

O modo mais rápido e menos custoso de ao menos atenuar o gargalo previdenciário é importar mão de obra —justamente o que cidadãos dos países ricos parecem cada vez mais rejeitar.

Há, de fato, alguns aspectos problemáticos nessa estratégia. A chegada de muitos estrangeiros, ainda que economicamente positiva, tende a diminuir a coesão social; em alguns casos, pode até haver aumento da violência.

E é claro que, se grandes contingentes se opõem à imigração, ainda que sem muita base factual, a imigração torna-se um problema real nos regimes democráticos.

É necessário convencer o eleitorado a respeito de como a chegada de trabalhadores estrangeiros pode ser benéfica para a economia. Não é tarefa simples, obviamente.

Se já é difícil educar a população em temas carregados por vieses, como a imigração, a tarefa se torna quase impossível quando políticos extremistas exploram despudoradamente esses preconceitos para chegarem ao poder.

editoriais@grupofolha.com.br

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