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A guerra vai à Rússia

Ucrânia surpreende e invade rival, em cartada que implica risco para Zelenski

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Volodimir Zelenski, presidente da Ucrânia - Kent Nishimura/ Getty Images via AFP

País acostumado com invasões, a Rússia não via forças estrangeiras cruzarem suas fronteiras em marcha desde 1941, quando Adolf Hitler lançou o maior ataque terrestre da história contra a URSS.

Desde então, soviéticos e russos ou travaram guerras fora do país, como na invasão da Ucrânia de 2022, ou lidaram com conflitos internos, como nas campanhas da Tchetchênia (1994-96 e 1999-2000).

Foi assim até a semana passada, quando o que parecia mais uma incursão fronteiriça ucraniana mostrou-se uma intrincada operação militar. A ação surpreendeu a todos, dado que a Ucrânia passa por um dos piores momentos desde que foi invadida por Vladimir Putin, há quase 2 anos e 6 meses.

Seus últimos sucessos estratégicos, as reconquistas de parte de Kherson (sul) e de Kharkiv (norte), datam do final de 2022. Ao longo de 2023, tentou uma grande contraofensiva que não deu em nada e viu os rivais retomarem a iniciativa.

A partir de fevereiro deste ano, Moscou avançou de forma lenta, mas constante, com risco real de colapso das defesas de Volodimir Zelenski na vital Donetsk, no leste. Em Kharkiv, uma nova frente russa drena preciosos recursos de Kiev.

A invasão ucraniana de Kursk, palco da épica batalha que expulsou os nazistas em 1943, foi encoberta de sigilo. Desorganizados, os russos demoraram uma semana para estabelecer uma defesa, para irritação visível de Putin, e precisaram evacuar quase 200 mil pessoas.

Como é impossível para a Ucrânia reter territórios externos com os recursos que tem, tudo indica que Zelenski busca uma cartada tripla.

Primeiro, injetar ânimo nas tropas com a humilhação sofrida pelo autocrata russo. Segundo, mostrar uma capacidade militar que merece apoio —ainda mais com a possibilidade de que o russófilo Donald Trump retorne à Casa Branca.

Mais factíveis, tais objetivos precedem um terceiro incerto: galgar posição para uma eventual negociação de cessar-fogo, algo que está sendo urdido aos poucos. Até Putin admitiu isso com desassombro.

"A Rússia precisa ser forçada a fazer a paz se Putin quer tanto lutar. Ela levou guerra aos outros, e agora ela voltou para casa", disse o presidente da Ucrânia na segunda (12).

Pode dar certo, mas implica o risco de exaurir algumas das melhores forças de Kiev numa aventura algo quixotesca de Zelenski, em momento de pressão renovada.

editoriais@grupofolha.com.br

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