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O que a Folha pensa

O poder e o professor Antonio Delfim Netto

Ex-ministro teve biografia marcada por ação na ditadura, movido antes por afã de comandar economia que por autoritarismo

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Antonio Delfim Netto, economista e professor que faleceu na segunda-feira (12) - Danilo Verpa/Danilo Verpa/Folhapress

A morte de Antonio Delfim Netto aos 96 anos nesta segunda (12) priva o Brasil de um de seus economistas mais importantes. Estudioso profundo em sua área de atuação, "o professor", como o chamavam muitos de seus interlocutores, era também um frasista tão mordaz quanto espirituoso.

Homem público dos mais qualificados, tecnocrata sedento por poder antes de um defensor ideológico do autoritarismo, teve a biografia marcada pela participação na ditadura militar.

Era o último signatário vivo do AI-5 —ato que inaugurou, em 1968, a fase mais dura da repressão durante a ditadura militar (1964-1985)— e comandou a economia, como um verdadeiro czar, naquele período sombrio.

Entre 1967 e 1974, foi ministro da Fazenda, quando o Brasil viveu fase de forte expansão, com taxas de crescimento de dois dígitos. O "milagre econômico" foi impulsionado pelo fortalecimento de estatais e grandes obras de infraestrutura.

Nem todos foram igualmente beneficiados nos anos de prosperidade, e houve grande concentração de renda no período, além de um rápido endividamento externo —que resultaria em uma década perdida depois. Delfim sempre negou ter dito a famosa frase a ele atribuída à época de que seria preciso "primeiro fazer o bolo crescer, para depois distribuí-lo".

Em 1979, voltaria ao governo convidado pelo general João Figueiredo (1918-1999). Primeiro, como ministro da Agricultura; depois, do Planejamento. Deixou o posto em meio a grave crise econômica.

Em 1987, dois anos após o fim da ditadura, foi eleito deputado federal, função na qual permaneceria por duas décadas.

Em cargos públicos ou não, Delfim nunca deixou de contribuir para o debate desde sua influente tese acadêmica sobre as políticas para o café, em 1959. Foi conselheiro informal em administrações petistas. Atuou como colunista desta Folha por 35 anos.

Apaixonado por antropologia, Delfim procurava conciliá-la com a ciência econômica. Afirmava que os homens não são melhores que orangotangos ("Basta vê-los numa festa", dizia), mas que são capazes de realizar sua humanidade plena por meio do trabalho.

Neste contexto, "a mão invisível do mercado" de Adam Smith (1723-1790) seria um dos únicos instrumentos inventados pelo homem capaz de conciliar sua condição animal com igualdade, liberdade e relativa eficiência produtiva.

Fará falta o professor.

editoriais@grupofolha.com.br

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