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O que a Folha pensa desmatamento

Amazônia arde

Aquecimento global e El Niño antecipam queimadas, que se espraiam pelo bioma

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Vista aérea de incêndio florestal na Reserva Biológica do Lago Piratuba (AP) - Dayane Pastana - 21.nov.23/ICMBio

Nos sete primeiros meses deste ano, a amazônia arde como não fazia há duas décadas. Agora, com um padrão de incêndios que suscita redobrada preocupação.

De 1º de janeiro a 26 de julho, monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais indicou 21.221 focos de calor, maior número desde 2005. No mesmo período de 2023, foram 12.114 pontos —o que representa alta de 75%.

Isso apesar de as taxas de desflorestamento terem recuado 50% em 2023. Já a área queimada aumentou 36%, alcançando 107.572 km², ante 79.007 km² no ano anterior.

Entre os aspectos discrepantes da temporada de chamas se encontra a multiplicação antecipada de focos de fogo. Até então, eles proliferavam no segundo semestre, mas, com o intenso fenômeno El Niño, a seca se alastrou pela região Norte facilitando a queima precoce da densa vegetação úmida.

Na dinâmica usual de destruição da floresta, primeiro ocorre o corte raso, que resulta em enorme quantidade de biomassa. Esta é deixada para secar, sendo depois empilhada para posterior ignição preparatória da semeadura de pasto.

O que se destacou nos últimos meses, no entanto, foram incêndios em matas primárias, com 31,7% dos focos registrados, ante 15,5% em desmates recentes.

A nova situação gera fenômeno relativamente raro na amazônia: incêndios florestais propriamente ditos, quando as chamas alcançam as copas das árvores, em vez de se propagarem mais na superfície.

Queimadas rasteiras, entrada de luz com abertura de estradas e corte seletivo de madeira já vinham secando a floresta. Com aquecimento global e El Niño, tal ressecamento levanta temor de que o bioma sofra degradação irreversível, cenário chamado de "savanização".

Segundo o governo federal, Ibama e ICMBio contam com 3.000 brigadistas a mais neste ano para combater focos de incêndio. Ademais, foram repassados R$ 405 milhões a corpos de bombeiros da região.

Mas a devastação só arrefecerá de fato quando o poder público lograr vitória sobre as queimadas ilegais e a grilagem, que tem na abertura de pastos o primeiro passo para açambarcar terras públicas.

editoriais@grupofolha.com.br

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