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Elisa Lucinda

Hora furuncular: a lição (parte 2)

Temos abusadores em todas as esferas, gêneros e etnias

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Elisa Lucinda

Atriz e escritora

É espremer furúnculos. Qual o racismo, o machismo estrutural é barulhento em sua forma aguda e silencioso em seu contágio. Atinge homens, mulheres, crianças, instituições públicas e privadas. Fosse cupim seria infestação.

Quando perguntei aqui qual a lição de nossa casa queria saber também o quanto nós, da esquerda, nos ligamos intimamente com nossos discursos públicos. Difícil ser coerente, mas necessário, para se manter uma qualidade ética. Se a gente se atrapalha, urge a desconstrução.

A imagem mostra uma figura humana estilizada em tons de azul, com uma mão vermelha cobrindo o rosto, simbolizando a violação da privacidade e o impacto emocional do vazamento de dados de pacientes de cirurgia plástica. O gesto de cobrir o rosto pode representar a angústia e o desejo de proteção das vítimas, principalmente mulheres, que tiveram suas informações pessoais expostas sem consentimento. O fundo azul escuro e o padrão diagonal criam um ambiente sombrio, refletindo a gravidade da situação e a sensação de vulnerabilidade das afetadas pelo vazamento.
Ilustração de Melita/Adobe Stock

O que nos chocou na denúncia contra o ministro é a quebra romântica do que esperamos de um defensor dos direitos humanos na vida. Independentemente das apurações, o fato nos esfrega à cara a verdade que não queremos: há progressistas brancos racistas, misóginos, homofóbicos, classistas. E o homem preto, jogado pela exclusão a uma frágil cidadania, ainda tem como seu único eixo masculino a mística da superioridade fálica como fagulha de poder. Então temos abusadores em todas as esferas, gêneros e etnias.

Vi um vídeo da mãe perguntando ao bebê: "O que quer comer?". "Puta", o garotinho responde, enquanto adultos riem. Mãe machista tóxica, sem perceber. Crime. O menino não sabe o que diz. Está sendo treinado em casa. Como fomos todos. As mulheres, para o silêncio. Guardamos escrotos segredos que protegem o agressor. Coleciono abusos que não denunciei. Aquele elogio inoportuno sobre minhas pernas no meio de um conversa profissional com meu diretor moderno, revolucionário.

Esquerda, precisamos falar sobre Kevin. Não adianta usar boné do MST e não falar com pobre, lutar por creches e bater em mulher, ser juiz ativista e ter funcionárias escravizadas em casa.

Nesse espelho duro, temos que mirar. Como seguir? Como extirpar o inimigo contra o qual lutamos, se o trazemos em nós? É fajuta uma democracia cujos homens não se desconstroem de tal mal. Deveria, mas ser de esquerda não nos faz imunes aos males que combatemos. É preciso lutar. Consigo mesmo.

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