Redes sociais inspiram novos cuidados éticos

Manual traz guia de atuação nesse ambiente de hiperexposição 

São Paulo

A nova versão do "Manual da Redação"
A nova versão do "Manual da Redação" - Samuel Cabral/Folhapress

Qual é o jeito certo de se aproximar de alguém para obter informação? Como lidar com interesses sorrateiros por trás de uma notícia? Quando se torna legítimo revelar aspectos da vida privada de personalidade pública?

Na atividade jornalística, sempre foi grande o número de perguntas para as quais não existem respostas prontas. Com o ambiente de hiperexposição das redes sociais, a lista de decisões sujeitas a controvérsia só aumentou.

Que tipo de opinião um jornalista pode postar? Quais os limites para a exposição da própria intimidade no mundo digital? Como compartilhar conteúdos alheios?

Versões anteriores do Manual da Redação da Folha, desde 1984, já reuniam orientações para ajudar o jornalista a encontrar as melhores soluções a cada dilema ético.

Na nova edição, o tema ganhou ainda mais destaque com um capítulo específico (Conduta), no qual, pela primeira vez, o jornal apresenta um guia para o comportamento nas redes sociais.

As diretrizes ali estabelecidas partem do princípio de que a credibilidade é o maior patrimônio do jornalismo. Assim, um veículo de comunicação como a Folha deve procurar assegurar a atuação íntegra de seus profissionais.

Como resume o Manual: É legítimo que se levantem questionamentos toda vez que o comportamento do jornal ou de seus profissionais pareça proteger interesses outros que não os dos leitores.

Daí, por exemplo, a regra geral segundo a qual o jornalista não pode oferecer valores ou favores pessoais em troca de informação, assim como não pode aceitar valores ou favores pessoais para publicar ou omitir notícia.

O capítulo ainda agrega orientações para a relação com entrevistados e com o leitor, lista os direitos da fonte de informação e do personagem da notícia, fixa parâmetros para o jornalista aceitar ou declinar convites e estabelece fronteiras sobre conflitos de interesse, entre outros casos.

Todas as balizas éticas que guiam os profissionais da Folha no ambiente offline também se aplicam online. A constante mutação do universo digital, porém, faz com que, além das regras gerais, sejam necessárias diretrizes específicas para redes sociais.

Algumas delas são dicas de bom comportamento; por sua natureza, interessam a profissionais de diversas áreas, e não só a jornalistas.

É o caso, por exemplo, da sugestão para assumir que todo conteúdo postado na internet é público, nunca desaparece e pode ser descontextualizado com facilidade.

Diga-se o mesmo da afirmação: Nas redes sociais, a imagem pessoal tende a se misturar com a profissional.

Para jornalistas, a orientação vai além: Parcela do público pode pôr em dúvida a isenção daquele que, na internet, manifesta opiniões sobre assuntos direta ou indiretamente associados a sua área de cobertura.

O capítulo também tem regras mais impositivas, como o veto à divulgação de bastidores da Redação por parte dos jornalistas da Folha.

Em tempos de polêmicas acirradas na internet, não poderia faltar uma regra para proibir que jornalistas da Folha destratem quem quer que seja ou se envolvam em discussões inflamadas com leitores, sobretudo nas seções de comentários e redes sociais.

 

Regras e orientações para os jornalistas da Folha

Carvall

 Proibido

  1. Praticar ato ilegal, antiético ou desonesto para obter informações;
  2. Usar informação privilegiada para obter vantagens pessoais;
  3. Solicitar convites para eventos ou cortesias e descontos para viagens, serviços e produtos. A regra se aplica mesmo que exista interesse jornalístico;
  4. Escrever sobre empresas ou instituições nas quais tem interesse pessoal ou investimento significativo;
  5. Promover comercialmente marcas, produtos ou empreendimentos em colunas e reportagens de qualquer plataforma, incluindo redes sociais;
Carvall

 Pense bem

  1. A Folha desestimula seus jornalistas a aceitarem presentes (exceções são admitidas, desde que o valor não ultrapasse 25% do salário mínimo);
  2. Identifique-se sempre como jornalista. A omissão só é admitida em casos excepcionais;
  3. Evite a proximidade excessiva com fontes e personagens do noticiário;
  4. Não se envolva em discussões inflamadas com os leitores;
  5. Evite ironias, pois uma parte dos leitores pode tomá-las ao pé da letra.
Carvall

 Incentivado

  1. Responder com agilidade e educação às manifestações dos leitores;
  2. Deixar claro ao interlocutor que está sendo entrevistado e explicar o motivo da reportagem;
  3. Alegar impedimento e recusar pautas sobre pessoas ou organizações com as quais mantenha relação;
  4. Voltar a fontes já consultadas para confrontar versões ou informações;
  5. Nunca esquecer o outro lado.
 

Anexos temáticos

Exemplos:

Religiões

As religiões e seus seguidores no mundo, em 2010
As religiões e seus seguidores no mundo, em 2010 - Gabriel Cabral/Folhapress
Tipos de véu islâmicos
Tipos de véu islâmicos - Gabriel Cabral/Folhapress

Poder Executivo

Organização do Congresso
Organização do Congresso - Gabriel Cabral/Folhapress

Ciência e Ambiente

Células-tronco e genômica
Células-tronco e genômica - Gabriel Cabral/Folhapress

Educação

Raio-x da educação brasileira
Raio-x da educação brasileira - Gabriel Cabral/Folhapress
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