O governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidato a presidente, autorizou nesta terça-feira (27) a construção de uma Fábrica de Cultura no prédio onde seria o “Museu do Lula”, como é conhecido o projeto do Museu do Trabalho e do Trabalhador, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
Vitrine da gestão tucana no setor, a Fábrica de Cultura de São Bernardo deverá ser a segunda fora da capital paulista, depois da de Diadema, cuja obra foi entregue pelo governador também nesta terça, com o equipamento ainda inoperante.
Com isso, Alckmin atendeu a pleito do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), que prometeu a mudança na eleição de 2016.
A licitação do Museu do Trabalhador foi feita em 2010, último ano de Lula na Presidência, quando o prefeito de São Bernardo era Luiz Marinho, hoje pré-candidato à sucessão de Alckmin pelo PT.
A ideia era criar uma instituição em homenagem aos movimentos sindicais do ABC, berço político de Lula.
Há cerca de um ano e meio, porém, a obra foi embargada. Duas ações tramitam na Justiça, com Marinho entre os alvos, por suspeita de superfaturamento, fraude e corrupção, entre outras irregularidades, as quais o petista nega.
“O famigerado museu virará uma fábrica de educação e cultura para São Bernardo”, discursou Alckmin, na cidade, em anúncio que não estava previsto oficialmente.
A prefeitura tem um TAC (termo de ajustamento de conduta) com o Ministério Público e o Ministério da Cultura para fazer no prédio o equipamento cultural.
Morando comemorou o aval de Alckmin. “Esse museu se tornou o maior símbolo de escândalo da nossa cidade. Esse empenho da gestão em modificar o destino para uma Fábrica de Cultura é um anseio da sociedade”, discursou.
Procurado, Marinho não quis se pronunciar. À época das denúncias, sua assessoria afirmou que o ex-prefeito “tem absoluta convicção da lisura do processo de licitação e obra e do Museu do Trabalho e do Trabalhador”.
controvérsia
Com quase R$ 16 milhões de investimento público, a obra foi iniciada em 2012 com previsão de duração de nove meses. Em julho de 2017, a construção foi interrompida após denúncia do Ministério Público de que houve desvios milionários nas obras.
Segundo o ex-vereador petista e urbanista Nabil Bonduki, o custo do projeto, a despeito das acusações de superfaturamento, é inferior ao de outros museus erguidos nos últimos anos.
Para Bonduki, colunista da Folha, a decisão de Alckmin “acaba tendo conotação política”, também pelo simbolismo do projeto original.
Ele disse que “a história tradicional é a história das elites” e que um museu sobre o trabalhador valoriza um setor em geral preterido na narrativa corrente.
“Acho melhor implantar uma Fábrica de Cultura do que deixar uma ruína. Mas o projeto era muito sério, bem interessante”, afirmou.
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