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'Ninguém pode dizer que o Lula é agressivo', diz Lula no fim de caravana

Ex-presidente fez discurso em Curitiba como resposta a ataque a tiros registrado um dia antes

Ana Luiza Albuquerque Catia Seabra
Curitiba

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou sua caravana pelo Sul com uma resposta aos ataques que sofreu nos últimos dias. "Ninguém pode dizer que o Lula é agressivo", afirmou. "Vocês nunca viram um ato de violência nossa contra qualquer candidato", prosseguiu, na noite desta quarta-feira (28), em Curitiba.

O ex-presidente Lula no palco pega nas mãos de integrantes do público, no ato de encerramento da caravana pelo Sul do país, em Curitiba
O ex-presidente Lula no ato de encerramento da caravana pelo Sul do país, em Curitiba - Marlene Bergamo/Folhapress

Desde que teve início no Rio Grande do Sul, no dia 19 de março, a caravana foi atingida diversas vezes com ovos e pedras. Nesta terça (27), os ataques culminaram em disparos de arma de fogo contra dois ônibus. "Eu penei para chegar até aqui. Se vocês soubessem o que eu fiz ontem para chegar até aqui...", disse o ex-presidente. 

O encerramento da caravana reuniu milhares de manifestantes no centro, na praça Santos Andrade, e teve alguns focos de animosidade. Ao longo do dia, uma carreata anti-Lula percorreu a cidade com gritos contra o ex-presidente.

Ao relatar uma tentativa de impedi-lo de discursar na Unipampa, em Bagé (RS), Lula afirmou que não iria acusar o juiz Sergio Moro, o MBL (Movimento Brasil Livre), o usineiro ou o arrozeiro. Ele criticou algumas pessoas por supostamente tentar minimizar os ataques, como a imprensa brasileira e o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB). Sobre os disparos, o tucano disse que o PT colhe o que planta.

"A imprensa internacional começou a criticar e todo mundo começou a ficar frouxinho."

Lula voltou a defender sua inocência e se disse vítima do juiz Moro, do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), do Ministério Público e da Polícia Federal. Ele também sugeriu que o impeachment da antecessora, Dilma Rousseff, está relacionado a interesses externos de países como os Estados Unidos, que teriam se sentido ameaçados depois que o Brasil descobriu o pré-sal.

Em seu discurso, Lula não acenou para a ideia da necessidade de uma união democrática de esquerda, defendida no palanque pelos presidenciáveis Manuela D'Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL).

O ex-presidente também afirmou que o PSDB e o MDB não têm candidato. "Quem está na disputa é a extrema direita, representada por esse cidadão que me recuso a citar o nome [Jair Bolsonaro (PSL)]."

O petista disse que o partido processará a Netflix pela série "O Mecanismo", que vem sendo criticada pela esquerda por não seguir à risca os acontecimentos envolvendo a Lava Jato. "Colocaram na minha boca coisa da boca de outro", afirmou, em referência à cena em que sua personagem diz que é preciso "estancar a sangria". A famosa expressão, na verdade, foi dita pelo senador Romero Jucá (MDB).

No palanque, o potencial candidato à Presidência Fernando Haddad (PT), assim como Boulos e Manuela, reforçou a necessidade de unidade. “Não é à toa que temos aqui três, quatro candidatos à Presidência."

Boulos disse que estão plantando a perigosa semente do fascismo no país e por isso responsabilizou Bolsonaro. "Bandido, criminoso e sem vergonha."

Ele lembrou o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) no Rio de Janeiro e puxou gritos de "Marielle, presente!". Boulous afirmou que já passou da hora de formar uma frente democrática de esquerda.

Em seu discurso, Manuela disse que defender a candidatura de Lula não é tarefa apenas dos petistas.

Estiveram presentes, ainda, os senadores Roberto Requião (PMDB), Lindberg Farias (PT) e Gleisi Hoffmann (PT) e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Dilma também falou em fascismo ao lamentar os disparos. “Ao longo desta caravana, enfrentamos uma das mais graves manifestações de fascismo", afirmou.

Em geral, o protesto desta quarta (28) ocorreu sem maiores problemas, mas houve tensão em alguns momentos. Um grupo de manifestantes anti-Lula chegou a invadir o ato petista, jogou ovos e xingou apoiadores do ex-presidente. 

A Polícia Militar foi até o local da confusão e estabeleceu um cordão de isolamento, mas ovos continuaram a ser arremessados. Em seguida, os ativistas pediram a desmilitarização da PM e revidaram os ataques com xingamentos e gritos de ordem.

CARREATA

Mais cedo, opositores de Lula participaram de uma carreata que saiu do estacionamento do Parque Barigui por volta das 15h, com cerca de 50 carros e um trio elétrico, em direção à praça 19 de Dezembro, no centro. 

Chegando lá, centenas decidiram ir até o protesto petista, a menos de 1 km. Barrada pela calavaria da Polícia Militar, a massa marchou apenas até as imediações, a cerca de 400 m do local onde Lula discursaria. 

A marcha ocorreu sob gritos de "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão" e "Viva Sergio Moro". Manifestantes cantaram o hino nacional, envoltos por bandeiras do Brasil. "A gente só quer gritar pra não deixar ele falar", disse uma senhora a um policial.

Um dos coordenadores avisou aos manifestantes que era responsável pela segurança e que a PM não os havia deixado ocupar a praça, apenas chegar perto. "Ele está lavando as mãos", disse um dos presentes, enquanto o resto vaiou a determinação.

A carreata contou com grupos como "Curitiba Contra Corrupção", "Patriotas Paraná", "Acampamento Lava Jato" e MBL. Segundo o primeiro, o trio elétrico foi financiado por meio de uma "vaquinha" dos membros e da venda de camisas e pixulekos.

A PM reforçou o policiamento na cidade e acompanhou as manifestações com cavalaria e helicóptero. Não informaram, entretanto, quanto foi o efetivo. Também não fizeram estimativa de manifestantes.

JUSTIÇA

A próxima semana será decisiva para o ex-presidente, que teve recursos do processo que envolve o caso tríplex negados pelo TRF-4 nesta segunda (26). Na próxima quarta (4), o STF (Supremo Tribunal Federal) julga um habeas corpus preventivo interposto por sua defesa. Caso seja rejeitado, o juiz Sergio Moro pode expedir um mandado de prisão imediato.

Em janeiro, o TRF-4 aumentou a pena do petista para 12 anos e um mês de prisão, por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele também é réu em outras duas ações em Curitiba e quatro no Distrito Federal. Condenado em segunda instância, se tornou inelegível pela Lei da Ficha Limpa. O PT tem afirmado que Lula concorrerá ainda assim, mesmo que preso.

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