Presidenciável, Alckmin suaviza críticas ao PT e afaga França ao deixar governo 

Em indireta a Doria, vice assume com discurso pautado pelo valor da lealdade

Thais Bilenky
São Paulo

Ao transmitir o cargo de governador de São Paulo, nesta sexta-feira (6) para disputar a eleição presidencial, Geraldo Alckmin (PSDB) baixou o tom nas críticas ao PT e fez um aceno, ainda que modesto, ao presidente Michel Temer (MDB).

O vice, Márcio França (PSB), assumiu o governo com um discurso pautado pelo valor da lealdade, no que deve ser a tônica de sua campanha à reeleição contra o agora ex-prefeito João Doria (PSDB). 

Em gesto de apoio ao pessebista, Alckmin disse que seu governo “não terminou”, tinha ali uma “nova largada”.  O tucano elogiou a “lealdade e competência” de França, pregou a austeridade na gestão pública, mas defendeu o combate a privilégios e uma agenda que atenda a população pobre do país.

“O que aguarda o vencedor deste ano nas eleições presidenciais é um governo difícil, com a herança duríssima deixada pelo PT, que apenas começou a ser enfrentada pelo governo do atual presidente da República”, discursou.

Aliados disseram que Alckmin quis imprimir uma “marca presidencial”, por isso suavizou o discurso em relação a dezembro, quando disse que Lula queria “voltar à cena do crime”. 

“Vamos nos unir, não separar”, declarou agora. “O Brasil cansou de indecência, da roubalheira, está farto de poucos privilegiados se darem bem”, discursou, agora oficialmente pré-candidato.

“Nenhum governante gosta de adotar medidas de austeridade. Lamentavelmente há momentos em que elas são necessárias”, disse “para atender quem mais precisa do estado e evitar que a parcela mais pobre da população seja a mais penalizada em momentos de crise”.

“Se mais não fizemos, não terá sido por falta de esforço. Tenho a certeza de termos feito o melhor ainda mais quando se considera que atravessamos a pior crise econômica em décadas sem deixar o estado afundar junto”, declarou.

Alckmin pigarreou ao cumprimentar França como governador de São Paulo e fez uma pausa para deixar ecoarem gritos de “Geraldo presidente” no salão do Palácio dos Bandeirantes lotado com centenas de convidados.

Questionado após a solenidade sobre como a iminente prisão de Lula afetaria a campanha eleitoral, Alckmin se limitou a dizer que “a lei é para todos” e que “decisão judicial se cumpre” —frases que repete incansavelmente.

“O mesmo”, respondeu quando indagado sobre a prisão de Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa no seu governo, apontado como operador do PSDB.

Em sua fala, o tucano justificou seu estilo, considerado passivo demais por alguns interlocutores. “Falo menos e procuro fazer mais. No Brasil de onde  venho, o que vale é o olho no olho, o que conta é mesmo o trabalho”

discurso-poema

O recém-empossado governador pediu aplausos de pé a Alckmin —embora ele próprio não tenha aplaudido, elogiou sua “humildade, discrição, perseverança” e cutucou indiretamente Doria.

“No dicionário cravado em nossos corações, só uma palavra precede a palavra lealdade, e essa palavra é gratidão”, declarou França.

O novo governador tem criticado Doria por ter sido eleito prefeito de São Paulo em 2016 com apoio de Alckmin e dele próprio. No entanto, resolveu se candidatar ao governo paulista contra a vontade de ambos.

A tentativa durante meses de se viabilizar como candidato a presidente, a despeito dos planos de seu padrinho político, tornou Doria o maior adversário de aliados de Alckmin e França.

Com o visual recauchutado, mais magro e sem barba, França apresentou pelo nome a família presente à posse: filhos, nora, netos, a mãe, irmãos e primos. Ao falar da mulher, Lucia, ele se mostrou emocionado e, também neste momento, manteve a linha-mestra do discurso. “Amo tudo em você, mas acima de tudo a sua lealdade”, disse.

Ritmado e permeado de rimas, o discurso de França começou como um poema. “Ah a lealdade.../ essa velha e honrada senhora certeira / Não tem dia e não tem hora, que eu te esqueça / Nem que o mundo acabe ou que eu desapareça... Lá vai você comigo, minha querida companheira”, declamou.

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