Ameaças a colaboradora justificaram prisão de Paulo Preto, diz procuradora

Segundo o MPF, ameaças configuram tentativa de obstrução de Justiça

Gabriela Sá Pessoa
São Paulo

Ameaças pessoais feitas por Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, a uma ré colaboradora do inquérito em andamento no MPF (Ministério Público Federal) justificaram o pedido de prisão preventiva do ex-diretor de engenharia da Dersa, disse a jornalistas a procuradora Thaméa Danelon, coordenadora da Lava Jato em São Paulo.

Souza está detido desde a manhã desta sexta-feira (6) no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na capital paulista. Segundo Danelon, ele fez três ameaças à colaboradora ao longo de dois anos —o que configura uma tentativa de obstrução de Justiça.

Paulo Preto, ex-diretor da Dersa, empresa responsável por obras viárias em SP - Geraldo Magela/Divulgação


“Se uma testemunha é ameaçada, pode deixar de falar a verdade. Isso comprometeria a busca das provas”, afirmou a procuradora, que não revelou o nome de quem reportou as ameaças. 

Segundo a coordenadora da Lava Jato, a ré participava do esquema de desvios de R$ 7,7 milhões, entre 2009 e 2011, nas obras do Rodoanel. E A tentativas de coação ocorreram quando a colaboradora se dirigia a órgãos públicos para prestar depoimento e foi pressionada a não falar.  A testemunha não formalizou um acordo de delação premiada, mas se dispôs a colaborar com a Justiça. ​

Segundo a investigação, os valores deveriam ser encaminhados ao realojamento de moradores da região das obras viárias, que aconteceram ao longo do governo José Serra (PSDB-SP).

Além do mandado de prisão, a Procuradoria solicitou a busca e apreensão de equipamentos eletrônicos em endereços de Souza. O material foi recolhido pela Polícia Federal e será utilizado para tentar esclarecer as ameaças reportadas e outros elementos da investigação em andamento.

Souza é suspeito de ser operador do senador José Serra em desvios de recursos do Rodoanel. Ele comandou a Dersa, empresa pública responsável pela obra, em governos tucanos.

A Procuradoria diz que não há negociação de um acordo delação premiada do ex-diretor. Segundo Danelon, a negociação de uma eventual colaboração com o MPF cabe à defesa de Paulo Preto. “O Ministério Público não pede prisão preventiva esperando delação premiada”, afirmou.

Em nota divulgada nesta sexta, os advogados de Souza disseram que a prisão do cliente era arbitrária, diante de sua disponibilidade em colaborar. Afirmaram, ainda, que processo não faz parte da Lava Jato, mas diz respeito a investigações de obras no trecho sul do Rodoanel.

A coordenadora da Lava Jato em São Paulo afirmou que o inquérito foi encaminhado à força-tarefa por envolver recursos federais. Além disso, segundo Danelon, o grupo de trabalho está apurando irregularidades em outras obras do estado, algumas delas apontadas nas delações de executivos da Odebrecht em 2017.

Por ora, as investigações não trazem novas informações sobre os R$ 113 milhões que Souza mantinha em contas na Suíça. Os valores foram reportados em documentos enviados aos procuradores por autoridades suíças.

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