Descrição de chapéu stf Gilmar Mendes

Foro especial deve cair, diz Gilmar Mendes em debate

Constituição de 1988 estabeleceu que autoridades da administração pública têm tratamento diferenciado na Justiça

Ministro Gilmar Mendes, que acredita que o foro especial deve cair
Ministro Gilmar Mendes, que acredita que o foro especial deve cair - Pedro Ladeira - 18.abr.2018/Folhapress
Marco Rodrigo Almeida
São Paulo

O Supremo Tribunal Federal deve decidir pela redução do alcance do foro especial, disse o ministro Gilmar Mendes na manhã desta terça-feira (24). Ele participou de debate promovido pela revista Veja, em São Paulo.

"Acho que irá cair o foro, mas haverá nuances. Casos funcionalmente relevantes, referentes a crimes praticados no exercício do mandato, ficarão no STF", disse Gilmar.

A Constituição de 1988 estabeleceu que autoridades da administração pública têm tratamento diferenciado na Justiça. Casos referentes a essas pessoas são enviados para instâncias superiores. Segundo levantamento feito pela Folha, ao menos 58 mil pessoas se encontram nesta situação.

debate deve ser retomado no STF no dia 2 de maio. Oito dos 11 ministros já votaram de forma favorável à restrição do alcance do foro para deputados e senadores.  Faltam apenas três votos para a conclusão do julgamento: dos ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli.  

Em evento cujo tema era a proliferação de notícias falsas, Gilmar disse que no Judiciário também há algumas lendas a combater. Deu como exemplo a ideia de que o foro especial e a prisão apenas após o esgotamento de recursos em todas as fases da Justiça, o chamado trânsito em julgado, contribuem para a impunidade no país.

 

"Dizem que o grande problema é o trânsito em julgado. Isso num país em que apenas 8% dos homicídios são esclarecidos. Deveríamos discutir mais a fundo essas questões", disse.

Em 2016, no STF, Gilmar votou favoravelmente pela execução da pena após condenação de segunda instância. O ministro mudou de posição nos últimos julgamentos na corte.

"Em 2016, dissemos que era razoável que a partir da condenação em segunda instância já possa ocorrer a prisão. Mas o que pensamos como possibilidade virou um imperativo categórico. Então deveríamos analisar de forma crítica essas questões. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra", afirmou.

"Hoje é impossível ter um trânsito em julgado no STF, por conta da repercussão geral [quando a solução de um caso serve de base para todos os demais casos de mesma natureza]. Fica-se esperando um julgamento que dificilmente corre num prazo certo. Por isso o ministro Toffoli propôs, e eu subscrevi, a tese de ida pelo menos ao STJ. Para termos assim um referencial muito mais seguro. Hoje, no Supremo, exigir o trânsito em julgado, me parece demasiado."  

No STF,  por exemplo, votou para conceder o habeas corpus pedido pela defesa do ex-presidente Lula.

"Se vocês quiserem encontrar um petista hoje, vão ao meu gabinete. O pessoal tem brincado que ali é o pátio dos milagres dos petistas atualmente", disse o ministro, aos risos.

Perguntado a respeito do caso do ex-presidente Lula, Gilmar avaliou que houve precipitação na prisão.

"Acho que não deveria ter havido a prisão antes do exaurimento do caso no TRF 4." Disse não concordar, porém, com a tese de que houve perseguição política contra Lula.

O ministro comentou também que os tribunais superiores podem reduzir a pena do ex-presidente. Lula foi condenado pelo TRF-4 a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.

Segundo Gilmar, em alguns casos o STF enquadrou esses dois crimes como um só, sendo a lavagem de dinheiro considerada parte da corrupção.  "É preciso discutir se os dois crimes a que ele foi condenado realmente são dois crimes”, destacou.

Gilmar também voltou a criticar o que chama de "alongadas prisões provisórias" em Curitiba, pela Operação Lavo Jato.

"Usar a prisão provisória para obter delação é um problema. Se é que não transformaram a prisão provisória numa espécie de tortura."

CANDIDATURA DE LULA

No mesmo evento, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ministro Luiz Fux, afirmou que uma liminar do STF pode possibilitar a candidatura de Lula à Presidência.

"A lei prevê que o acesso ao judiciário é cláusula pétrea, é uma garantia fundamental de todo cidadão. Evidentemente, se o Supremo Tribunal Federal deferir uma liminar, o TSE vem abaixo dele. Se o STF emitir uma ordem, eu terei, necessariamente, que cumprir.  Ou seja: existe a possibilidade." 

Fux, entretanto, declarou que a Lei da Ficha Limpa é clara ao dizer que condenados em segunda instância, como Lula, são considerados inelegíveis.

"Hoje, o candidato condenado em segunda instância é considerado inelegível. Me fizeram essa pergunta recentemente. Aí eu pergunto o seguinte: o Barack Obama resolveu se tomar de amores pelo Brasil, e aí veio aqui e quer se inscrever como candidato a presidente da República. O TSE pode receber esse pedido de registro de candidatura, muito embora dentro do nosso coração palpite o desejo de ter um candidato parecido com ele? É claro que não."

 

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