Profissionais destacam leveza de reforma visual da Folha

Novo projeto gráfico do jornal também é criticado por falta de clareza hierárquica

Daigo Oliva
São Paulo

Mais arejada, leve e com valorização de espaços em branco pelas páginas. Foi assim que profissionais de diferentes áreas descreveram as principais características da reforma gráfica que a Folha estreou nesta sexta-feira (20).

Para Rosental Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas em Austin, as mudanças trouxeram ao jornal apresentação simples e menos poluída. "E, aqui nos Estados Unidos, simplicidade é beleza e funcionalidade."

Rosental destaca que as decisões adotadas pela Folha vão além de mudanças cosméticas. Ele aponta a flexibilidade do novo projeto, que permite o retorno de editorias que não circulam com periodicidade definida. "Quando há notícia, a editoria correspondente volta. É a lógica."

Explicações técnicas da fonte tipográfica usada no novo projeto gráfico
Ajustes tipográficos realizados para a reforma gráfica da Folha - Marcio Freitas

Elaine Ramos, sócia da Ubu Editora, também destacou a flexibilidade da reforma, mas no desenho das reportagens. A ex-diretora de arte da Cosac Naify avalia que a possibilidade de fazer colunas de texto mais estreitas, com espaços em branco entre os elementos da página, oferece visual arejado.

Por outro lado, afirma que o projeto ressente de maior clareza hierárquica. "Faltam âncoras visuais. Estou longe de defender as faixas anteriores [que acompanhavam os nomes das editorias nas capas dos cadernos], mas os títulos ficaram tímidos demais.

"Quem admitiu ter sentido falta das faixas foi o cartunista da Folha João Montanaro. Em publicação numa rede social, ele brincou: "A Folha lança hoje sua nova identidade gráfica, e com ela vem a morte do lindo cyan 80% [cor usada no fundo das marcas dos cadernos] que permeava as páginas do jornal. Não tenho escolha a não ser pedir um piquete das mulheres do MST no parque gráfico do jornal".

Depois, por telefone, diz ter entendido "a morte do cyan". "Tudo ficou mais fácil de ser manejado e com valorização dos espaços em branco. É uma das melhores reformulações da Folha que eu me lembre. Bom, não peguei muitas, né?", diz o cartunista de 22 anos.

Os espaços em branco também foram citados pelo publicitário Ricardo Chester, diretor de criação da agência AlmappBBDO. "Há mais espaço para notícia, ao mesmo tempo que parece ter mais espaço entre as notícias. Menos borda, mais recheio", afirma.

Além do jornal impresso, outros produtos da Folha, como o Guia, foram reformulados. Didiana Prata, autora do projeto gráfico anterior do suplemento cultural publicado às sextas, defendeu a reforma. "A grande mudança foi o uso de uma fonte de texto alinhada à do digital." Os destaques selecionados ao longo do roteiro do Guia, no entanto, mereciam mais força, afirma ela.

Thyago Nogueira, coordenador de fotografia contemporânea do Instituto Moreira Salles, diz que é cedo para ter uma visão consolidada da reforma. "É como um corte de cabelo novo. Você se olha no espelho e acha estranho. Depois tudo vai se assentando."

O curador destaca a leveza da mudança do jornal, que "se livrou de penduricalhos"." Mas, pensando que vivemos numa sociedade de imagens, o jornal ainda não achou uma maneira de fazer com que as fotos sejam protagonistas."

Eugênio Bucci, professor de jornalismo da USP, vê na mudança da localização dos créditos dos fotógrafos um trunfo. "Colocá-los após as legendas das imagens torna a ordem da leitura mais natural. A patente desses profissionais subiu, e os créditos poderiam ter ainda mais destaque."

Para o publicitário Nizan Guanaes, não se trata de projeto gráfico, mas de projeto mental. "É uma nova forma de pensar. E eu, que estou chegando aos 60, agradeço o aumento da legibilidade." Colunista da Folha e dono do grupo ABC, Nizan aponta confluência entre os projetos gráfico e editorial do jornal: "É como se você tivesse uma roupa que realça o corpo".

Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco, chamou a atenção para a "generosa ampliação da oferta de espaços para leitura" e para a "diagramação aberta, que dá dinamismo ao exercício de folhear o jornal. A Folha nos inspira à inquietação".

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