Cavendish oferece créditos da Delta de R$ 375 mi à Justiça Federal

Iniciativa visa reparar danos apontados pela Operação Saqueador, que trata de caixa dois e propina

Italo Nogueira
Rio de Janeiro

O empresário Fernando Cavendish ofereceu à Justiça Federal créditos da Delta Construções junto a governos estaduais e municipais para reparar os danos apontados pela Operação Saqueador, que trata da geração de caixa dois da empreiteira para pagamento de propina.

Os recebíveis da construtora chegam a R$ 375,5 milhões, embora muitos ainda estejam pendentes de reconhecimento por parte de estados, municípios ou na própria Justiça.

A oferta dos recursos à Justiça, feita em novembro do ano passado, foi um dos argumentos da defesa junto ao juiz Marcelo Bretas para revogar a prisão domiciliar contra o empresário. O magistrado concedeu o benefício em fevereiro, com a concordância do Ministério Público Federal.

Cavendish foi preso em junho de 2016 e, dois meses depois, colocado em prisão domiciliar por determinação do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O empresário Fernando Cavendish, em 2012 - Sergio Lima -29.ago.2012/Folhapress

Ele confessou os crimes que constam na denúncia da Operação Saqueador, em que é acusado de participar de organização criminosa e lavagem de dinheiro por meio de empresas de Adir Assad e Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Os operadores viabilizaram, segundo o Ministério Público Federal, dinheiro vivo para o caixa dois da empreiteira a fim de viabilizar o pagamento de propina a políticos. O total gerado em espécie foi de R$ 370 milhões, valor próximo ao do oferecido pelo empresário.

Em depoimento no ano passado, Cavendish confessou a geração de caixa dois, mas afirmou que pagou propina apenas ao ex-governador Sérgio Cabral (MDB) --único mencionado na acusação.

Os demais recursos, afirmou o empresário, foram usados para pagamentos corriqueiros "por fora", tais como "complementação salarial" de funcionários, alimentação, locação de carros e pequenos serviços.
Cavendish ofereceu os benefícios para "reparar os possíveis danos causados". A defesa do empresário afirma que os recebíveis "decorrem integralmente de atividades lícitas".

A planilha de recebíveis apresentada pela Delta à Justiça aponta como "incontroverso" um total de R$ 205,1 milhões. Quanto a outros R$ 170 milhões a empreiteira admite haver divergências.

Contudo, ofícios enviados por prefeituras indicam que mesmo aqueles recursos supostamente garantidos são contestados. A Prefeitura de Pelotas (RS), por exemplo, não reconheceu como incontroversa dívida calculada em R$ 4,5 milhões pela Delta por serviços de varrição. 

Para o município, trata-se de discussão de débito de R$ 3,2 milhões.
 

Bretas tem considerado para cálculo de redução de pena a confissão de crimes e, principalmente, a devolução de dinheiro aos cofres públicos. Recursos já entregues à Justiça Federal foram repassados ao governo do estado para quitar salários de servidores fluminenses em atraso.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.