Descrição de chapéu Eleições 2018 João Doria

Em busca de bênção eleitoral, Doria aparece na Marcha para Jesus com rival de Alckmin

Ex-prefeito paulistano esteve em evento evangélico com o presidenciável Flavio Rocha, do PRB

Anna Virginia Balloussier
São Paulo

O ex-prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) foi à Marcha para Jesus, nesta quinta (31) de Corpus Christi, com Flavio Rocha (PRB), presidenciável do partido que, na véspera, selou o apoio a sua candidatura para o governo paulista. 

Estranhamento com o palanque duplo no estado, já que o ex-governador e padrinho político Geraldo Alckmin, tucano como o ex-prefeito, também mira o Palácio do Planalto? 

Nenhum, disse Doria à Folha, minutos depois de tirar uma selfie com Rocha, o prefeito Bruno Covas e o vereador João Jorge (PSDB) num café próximo ao ato religioso —a imagem foi prontamente divulgada pela assessoria do pré-candidato do PRB.

 

“O que há é convergência por um Brasil unido em torno de candidaturas em defesa do Brasil. Nem esquerda nem direita, é o palanque do Brasil”, afirmou o tucano. Aliados lembraram que também Alckmin faz “jogo duplo” em sua terra natal, ao acenar para Doria e para o atual governador, Márcio França (PSB).

Juntos, Doria e Rocha ajoelharam no trio elétrico batizado Bordoada, enquanto a multidão orava sob o comando do apóstolo Estevam Hernandes, presidente da Marcha e fundador da igreja que a organiza, a Renascer em Cristo.

Um dia antes, Hernandes disse à Folha que a caminhada não é um evento político nem palanque. "Mas recebemos e oramos por todos."

O “amigo Doria”, contudo, teve sua vez no microfone. “Queeeeem ama sua família? Queeeem ama Jesus? Queeeem ama Deus? E o estado de São Paulo?”, disse o ex-prefeito.

À reportagem, no camarim do trio, o líder da Renascer reforçou o caráter “totalmente apolítico” da Marcha, que não tem candidato x ou y, disse. 

“Agora, temos liberdade. João pediu para falar uma palavra cristã. Qualquer outro que viesse falaria.”

Doria e Rocha não são os únicos atrás de bênção em ano eleitoral: adversário do ex-prefeito no pleito estadual, França também confirmou presença no evento, assim como o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

Bolsonaro ficou de passar na Marcha com o senador Magno Malta (PR), cotado como vice em sua chapa e convidado cativo no ato evangélico —no qual já se apresentou com sua banda gospel, a Tempero do Mundo, que tem no repertório "Força na Mão de Deus" e "Íntima Adoração". 

Na edição de 2017, o apóstolo criticou Alckmin por cancelar sua ida em cima da hora. "Ele não julga [a Marcha] importante. Se julgasse, estaria aqui", disse o homem que idealizou o evento 26 anos atrás. 

O ex-governador não confirmou presença neste ano. 

Questionado sobre a ausência dele pela Folha, Estevam citou primeiro uma passagem bíblica: “Pelos seus frutos os conhecereis”.

E depois: “Foi uma opção dele não vir, talvez por respeito ao evento. Ano passado devia ter vindo, como governador”.

No trio, para ruas lotadas de fiéis com abadá gospel azul onde se lia “o rei da glória”, Estevam disse que o Brasil vive um “momento crítico”. “Hoje o Deus da paz vai esmagar Satanás.”

Ele também citou a greve dos caminhoneiros, que atrapalhou o cronograma da Marcha, atrasando a chegada de 11 trios e a montagem do palco. “Muita gente achou que a gente não ia conseguir. E a vitória de quem é? Grita comigo: J! E! S! U! S! Jesus!”

Para a audiência fiel, Estevam disse que a paralisação mais parecia coisa “de capetas tomando Jack Daniel's”.

O pastor ao seu lado entrou na brincadeira: “A raiva do diabo é que nosso tanque espiritual tá cheio”. 

“O povo de deus não é movido a gasolina, é movido ao Espírito Santo”, concluiu o apóstolo.

Em seu discurso à multidão azulada, Bruno Covas pediu “pra que a gente possa orar pra que o Brasil saia melhor do que entrou” após a crise dos combustíveis. Seguiram-se aleluias.

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