Descrição de chapéu greve dos caminhoneiros

Falta rumo ao Brasil, diz FHC sobre a paralisação dos caminhoneiros

Para ex-presidente, protestos não são uma crise de categoria, mas de descrença na democracia

Cláudia Collucci
São Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta segunda (28) que "falta rumo ao Brasil" e que a paralisação dos caminhoneiros não é uma questão só da categoria.

"Ela está expressando um mal-estar que a gente não sabe o que é. É um mal-estar profundo entre o que poderia ser e o que é. Falta rumo ao Brasil", disse FHC, em evento comemorativa de 20 anos de OSs (Organizações Sociais), em São Paulo.

Segundo o ex-presidente, embora no governo atual a taxa de juros e de desemprego tenham caído, o índice de popularidade do presidente Michel Temer (MDB) "caiu mais do que tudo".

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), durante entrevista à Folha em seu escritório na sede do iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso)
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), durante entrevista à Folha em seu escritório na sede do iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso) - Bruno Santos - 18.abr.2018/Folhapress

"Não adianta fazer. Há uma falta de crença. É preciso reinventar a crença na democracia e na capacidade que os governos terão de entregar resultados", afirmou.

Para ele, a democracia representativa no Brasil está em crise.

"Temos várias crises simultaneamente, sobretudo a última, que é a descoberta das bases pobres sobre o financiamento das campanhas politicas que provocaram reação de repulsa na sociedade."

Segundo FHC, a corrupção e a violência são hoje o "cupim da democracia". "A violência está por toda a parte. Você está na praia [no Rio] e ao fundo está ouvindo [o som] do fuzil. Os grupos de bandidos organizados tomaram conta, penetraram no aparelho do Estado."

Para ele, a sociedade precisa reagir contra isso. "Precisamos de autoridade sem autoritarismo, respeito. Alguém que tenha capacidade de se impor, não porque porque vai botar força. A força tem que estar sempre ao lado, o melhor é não precisar usá-la porque se tem o respeito." 

Na opinião de FHC, porém, não há razão para perder a esperança no país. "Nós fizemos muitas coisas. Vamos jogar no ar, deixar que o caos tome conta disso aqui? Não. Vamos construtivamente levar o Brasil [para frente]. Sem ter ideias malucas, sem reinventar a roda. Não podemos deixar que isso vire caos nem que vire violência."

Ao final da sua fala, FHC evitou os jornalistas e não quis comentar sobre a solução de Temer para crise provocada pela paralisação dos caminhoneiros ou recentes denúncias envolvendo o PSDB.

Ele se limitou a dizer que "isso precisa de calma para responder". "Vamos fazer uma conversa organizada sobre essas questões."

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