Alckmin inclui general em campanha para fazer frente a Bolsonaro

Escolha de militar da mais alta patente responde a fetiche popular pelas Forças Armadas

Fernanda Mena Thais Bilenky
São Paulo

A estratégia adotada pelo presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) de bater de frente com Jair Bolsonaro (PSL), candidato mais bem colocado nas pesquisas, ganhou um reforço de peso: o anúncio do general João Camilo Pires de Campos na equipe que cuida de seu programa para a segurança pública.

O tema é dos mais sensíveis nas eleições de 2018, amparado pelos índices recordistas de violência e de homicídios no país, que ultrapassaram a marca das 62 mil mortes em 2016.

Neste contexto, trazer para a cena de sua campanha um militar do Exército de alta patente responde ao atual apoio de parte dos brasileiros pelas Forças Armadas ao mesmo tempo em que faz frente a Bolsonaro, que, por questões hierárquicas, teria de bater continência para o general.

Há 15 dias, a campanha de Alckmin começou a polemizar com ex-deputado federal nas redes sociais, e as rixas teriam gerado aumento de tráfego para os perfis do tucano, multiplicando por quatro o alcance de suas postagens.

Geraldo Alckmin, pré-candidato a presidente pelo PSDB, anunciou equipe de segurança pública de seu programa de governo - Adriano Machado/ Reuters

Horas após o anúncio do general em sua campanha, nesta quarta (6), o tucano fez uma visita ao general Braga Netto, responsável pela intervenção federal no Rio de Janeiro.

Pouco depois, os perfis do presidenciável do PSDB exibiam uma provocação: "Geraldo Alckmin desafiou Bolsonaro para um debate sobre segurança pública. E aí, será que ele vai aceitar ou vai correr?". O post acompanhava uma imagem dividida ao meio com o tucano de um lado, gesticulando ao microfone, o ex-capitão do outro, com as não no rosto, pensativo.

A intenção da campanha é desempacar o presidenciável tucano nas pesquisas fazendo frente ao mais forte oponente do pleito. 

No levantamento mais recente do Datafolha, Bolsonaro tinha 17% das intenções de voto enquanto Alckmin colhia míseros 7% no cenário mais provável em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje preso em Curitiba, não entra na disputa.

Campos é visto como um estrategista do ponto de vista tático, alguém familiarizado com questões da segurança pública por experiência em operações urbanas e um democrata do ponto de vista político. 
Ele atuou, por exemplo, na ocupação do Complexo do Alemão, em 2010, que abriu caminho para a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no local.

Alckmin, que já conhecia o general de quase dois metros de altura desde 2013, decidiu integrar o militar à sua equipe depois de uma conferência em que Campos criticou Bolsonaro, sugerindo que a vitória do ex-capitão seria uma ameaça à democracia.

Há cerca de dez anos se desenrola no país um processo de utilização das Forças Armadas como instrumento na tentativa de conter ou resolver problemas de segurança pública. 

O resultado dessas ações se mostrou inconsistente. Na maior parte dos casos, a violência retorna assim que os tanques e soldados saem de cena.

As intervenções militares federais e estaduais foram facilitadas por uma série de instrumentos criados nos governos FHC (PSDB), Lula (PT) e Dilma (PT), período em que se consolidou o uso do Exército nas grandes cidades brasileiras ou mesmo no sistema prisional. Dilma decretou por 13 vezes operações de Garantia da Lei e Ordem.

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