Descrição de chapéu Eleições 2018

Rejeitado na capital, Doria busca nova onda azul em SP

Tucano, que será oficializado hoje em convenção, disse 43 vezes que ficaria 4 anos na prefeitura

Thais Bilenky
São Paulo

Depois de comparar sua renúncia a um divórcio, o ex-prefeito João Doria (PSDB) tenta reatar o namoro com o eleitor paulistano a partir deste sábado (28), quando oficializa sua candidatura ao governo do estado.

Desde abril, quando deixou a administração municipal dois anos e nove meses antes do previsto, o tucano dedicou praticamente toda a pré-campanha ao interior paulista.

Sua equipe argumenta que, por ter colégio eleitoral duas vezes maior que a capital, o interior exigiu tempo e empenho. Agora, afirma, é hora de reconquistar os paulistanos.

A revolta contra Doria explodiu na cidade onde arrebatou 3 milhões de votos com os quais conquistou a prefeitura no primeiro turno de 2016. 

Sua rejeição, em abril, era numericamente maior (33%) que a intenção de voto (29%) para o governo, conforme apontou o Datafolha.

"Há um mal-entendido, temos que explicar", diz Nelson Biondi, marqueteiro de Doria. "Ele não saiu porque quis, porque o governo do estado é melhor. Ao contrário do que apregoam os adversários, João teve coragem de deixar a terceira cadeira mais importante do país para correr o risco de não se eleger."

A desconfiança do eleitor advém também da insistência de Doria em negar que deixaria a prefeitura antes da hora. Foram ao menos 43 declarações identificadas pela Folha ao longo de 16 meses, nas quais reiterou o seu compromisso de cumprir o mandato integralmente.

A primeira vez em que negou que abandonaria a prefeitura prematuramente ocorreu em dezembro de 2015, quando recebeu a bênção do então governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) para entrar para a política eleitoral.

Depois de um jantar na casa de Flávio Rocha (PRB) em que o veterano tucano incentivou o novato a concorrer, Doria expôs seu compromisso.

"Faremos quatro anos vibrantes, que valerão por oito", assegurou ao jornal El Pais, quando ainda era não era levado a sério pelo establishment político.

Em setembro de 2016, já em primeiro lugar nas pesquisas, Doria repetiu nove vezes que cumpriria o mandato na prefeitura até o final se vencesse. Em outubro, eleito, disse outras oito vezes a mesma coisa.

Na virada de 2017 para 2018, quando o sonho de disputar a Presidência já havia sido adiado, o então prefeito começou a mudar o tom. "Estamos focados. O time é bom, nosso vice-prefeito também [está] cumprindo sua função", afirmou em 1º de janeiro à Jovem Pan, em aceno a Bruno Covas (PSDB), que viria a sucedê-lo.

Em abril, deixou o posto dizendo que não era porque um cônjuge queria o divórcio que podia ser considerado traidor. Não convenceu o eleitor.

A campanha afirma que houve uma melhora no ambiente paulistano desde então, segundo sondagens internas. A expectativa é que melhore ainda mais quando começar o horário eleitoral.

O tucano afirma que deixou a prefeitura em resposta a um chamado do PSDB, que, sem alternativa, conclamou sua candidatura como única forma de se manter no poder.
 

Alckmin é esperado na convenção deste sábado --será sua segunda aparição pública ao lado de Doria desde abril.

A campanha do ex-prefeito vibra com a reaproximação. Mas, como costuma fazer, o ex-governador prepara um discurso salpicado de cautela. Se seguir o script, o presidenciável dirá que a responsabilidade de Doria é sobretudo a de fazer jus ao legado tucano no Palácio dos Bandeirantes.

João Agripino da Costa Doria Junior, 60

Naturalidade São Paulo
Trajetória Fundador do Lide, encabeçou o movimento Cansei contra Lula e foi prefeito de São Paulo (2017)
Partidos e coligados: Filiado ao PSDB, aliou-se ao PSD, PP, PRB, PTC e DEM
Marqueteiro: Nelson Biondi
Coordenador: Roberto Giannetti da Fonseca, afastado após investigação da Operação Zelotes
Slogan: Acelera SP
Pontos fortes: Possui recall da vitória no primeiro turno na eleição de 2016, apresenta-se como gestor capaz de superar velhas práticas da política tradicional
Fragilidades: Viu sua rejeição explodir na capital paulista ao renunciar ao mandato um ano e três meses depois de assumi-lo e acumulou desafetos ao acalentar o sonho de substituir Geraldo Alckmin na eleição presidencial
Mote/tema de campanha: Com discurso contundente contra o PT e Lula, arrebatou o voto conservador na cidade; tenta agora imprimir tom de modernidade à gestão do estado, liderada pelo PSDB há duas décadas
Bordões: Não sou político, sou gestor
 

Erramos: o texto foi alterado

João Doria deixou o cargo de prefeito dois anos e noves antes do previsto, e não três anos anos e nove meses.

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