Alckmin recua, diz que conhece depoimento de advogado e nega contradição

Tucano agora afirma que, ao dizer que desconhecia depoimento, não se referia à petição de sua defesa

Daniel Carvalho Thais Bilenky
Brasília e São Paulo

Após dizer na manhã desta quarta-feira (5) que desconhecia o depoimento de seu advogado e primo, José Eduardo Alckmin, à Procuradoria-Geral da República, o candidato ao Planalto pelo PSDB, Geraldo Alckmin, recuou e, em nota, afirmou que não se referia à petição apresentada por sua defesa.

A Folha mostrou nesta quarta que o advogado mencionou em depoimento prestado por escrito, em julho de 2017, uma reunião com um delator da Odebrecht que acusa Alckmin de ter recebido caixa dois.

Segundo documento obtido pela Folha, o advogado cita um encontro em 2010 com Aluizio Araujo, então membro do Conselho de Administração da Odebrecht, e Carlos Armando Paschoal, à época diretor-superintendente da construtora em São Paulo.

Em 2010, Alckmin disputou com sucesso o governo de São Paulo. Paschoal, em delação homologada em 2017, afirmou que no encontro foi acertada uma doação por meio de caixa dois de R$ 2 milhões, o que o tucano nega.

Em março de 2018, Alckmin negou em entrevista que o encontro tenha ocorrido.

Nesta manhã, Alckmin foi questionado pela Folha sobre a contradição.

"Candidato, a Folha deu hoje uma matéria falando que um depoimento do seu advogado supostamente contradisse uma declaração do senhor em relação a uma reunião com a Odebrecht em 2010. Como o senhor explica esta mudança de versão?", indagou a reportagem em entrevista coletiva na saída da sede da Abar (Associação Brasileira de Agências de Regulação).

"Eu não conheço este depoimento até porque está em sigilo. Não sei como a imprensa consegue, mas eu não tenho acesso", respondeu Alckmin.

Após a publicação desta declaração, a assessoria de imprensa de Alckmin divulgou uma nota afirmando que, "por óbvio", o candidato não se referia à petição de seu advogado ao dizer que desconhecia o depoimento.

Segundo a campanha tucana, ele se referia à outra notícia, de que o Ministério Público de São Paulo havia ajuizado nesta manhã uma ação de improbidade administrativa contra o presidenciável. Segundo os promotores, o tucano aceitou pelo menos R$ 7,8 milhões da Odebrecht para financiar sua campanha à reeleição, em 2014, por meio de caixa dois.

"O candidato Geraldo Alckmin, ao afirmar que 'desconhece depoimento', não se referia, por óbvio, à petição de sua defesa entregue à Justiça. A afirmação foi uma referência à ação do Ministério Público de SP, que está sob sigilo", informa a nota.

"Com relação à reportagem da Folha que aponta suposta contradição entre a petição da defesa e declarações de Alckmin, reafirmamos que não há contradição porque não houve confirmação de encontro. Na manifestação, aludindo às afirmações do delator, procurou-se demonstrar que ele próprio descrevera somente um encontro protocolar, em que nenhuma solicitação fora feita. Isso não significa confirmação do encontro, do qual o candidato afirma não se recordar. A reportagem distorce e descontextualiza tanto o documento da defesa quanto uma declaração específica do ex-governador, de modo a fabricar uma falsa divergência de versões para confundir os leitores", disse a campanha do PSDB.

Na petição, José Eduardo Alckmin menciona a conversa com o delator da Odebrecht seis vezes, sem contestar a sua ocorrência. "Parece evidente que houve uma visita protocolar, em que Aluizio levou o diretor Carlos Armando para apresentá-lo ao candidato, com vistas a uma futura contribuição de campanha. Certamente, naquele momento não se tratou de valores ou de como a doação se operacionalizaria", escreveu o advogado do tucano. 

Em outra passagem, a defesa diz que "a conversa, em período antecedente ao início da campanha eleitoral, só poderia ser mesmo, como definido pelo declarante Carlos Armando Paschoal, 'um papo furado', pois não era momento de qualquer doação eleitoral".
 

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