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Eleições 2018

Painel do Eleitor: Estudante indeciso rejeita apelos ao voto útil e diz que ninguém governa sozinho

Preocupação com escolha para deputado federal é maior

O estudante Fernando Safadi, 18, assiste na redação da Folha ao debate entre presidenciáveis exibido pela TV Aparecida
O estudante Fernando Safadi, 18, assiste na redação da Folha ao debate entre presidenciáveis exibido pela TV Aparecida - Rafael Hupsel/Folhapress
Ricardo Balthazar
São Paulo

O estudante Fernando Safadi votará pela primeira vez para presidente da República daqui a duas semanas, mas ainda não resolveu o que vai fazer. "Não vejo ninguém com as condições para ocupar o cargo", diz ele, que tem 18 anos e está no primeiro ano do curso de medicina.

O pai, um engenheiro que trabalha no mercado financeiro, pensa em votar em Jair Bolsonaro (PSL). Acha que eleger o capitão reformado do Exército agora, liquidando a disputa eleitoral antes do segundo turno, é a única maneira de impedir a volta do PT ao poder.

A namorada, que neste ano entrou na faculdade de direito, está inclinada a votar em Ciro Gomes (PDT). Ela o conhece pouco, diz Safadi, mas vê Ciro como o candidato que tem mais chances de derrotar Bolsonaro, a quem abomina por causa do discurso ofensivo às mulheres.

Mas Safadi discorda das duas opções. "Não quero jogar fora meu voto, escolhendo alguém em quem não acredito só para impedir outro de ganhar", afirma. "Não adianta votar por medo."

O estudante se mostra inquieto diante dos rumos da campanha presidencial, com a polarização entre Bolsonaro e o petista Fernando Haddad. Diz ter amigos que votam nos dois, mas já percebeu que eles preferem esconder o voto. "Querem evitar briga", explica.

Na quinta (20), Safadi ficou decepcionado com a atuação de Haddad no debate presidencial organizado pela TV Aparecida, mas também não encontrou motivos para votar em seus rivais.

Com a ausência de Bolsonaro, que se recupera das cirurgias sofridas após a facada que levou há duas semanas, o petista se tornou o alvo principal dos adversários, que culpam os governos do PT pela crise econômica que o país atravessa.

Safadi acha que o candidato petista recorreu a apelos emocionais para reforçar sua identidade com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político, e esconder a ausência de propostas para reerguer a economia. "Ele só sabe jogar a culpa nos outros", disse.

Quando Haddad prometeu retomar investimentos públicos, estimular o crédito e reforçar os programas sociais que viraram marca registrada do lulismo, Safadi expressou dúvida sobre a estratégia. "Não conheço quem tenha realmente superado a pobreza com o Bolsa Família", afirmou.

O estudante achou Ciro Gomes eloquente, mas considerou suas propostas frágeis como as de Haddad. Ciro promete revogar a reforma trabalhista, que julga prejudicial aos trabalhadores. Para Safadi, as mudanças deram mais liberdade às negociações entre patrões e empregados.

Os apelos do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) à conciliação lhe pareceram pouco convincentes, sinais de ambiguidade e ausência de propostas capazes de diferenciá-lo dos adversários. “O discurso soa falso”, disse.

Ele simpatiza com Marina Silva (Rede), que lhe parece bem intencionada, e gosta de João Amoêdo, o ex-banqueiro que concorre pelo partido Novo e foi excluído dos debates presidenciais por não ter representação na Câmara dos Deputados.

Mas o estudante acha que nenhum dos dois tem força política para alcançar os compromissos necessários para o exercício do poder. "O presidente não tem como fazer tudo, sem negociar com o Congresso e o Judiciário", afirmou.

Safadi duvida que Bolsonaro terá condições de implementar sua plataforma econômica liberal se for eleito, mas teme que o Legislativo apoie itens de sua pauta conservadora, como a liberação do porte de armas e iniciativas contrárias a direitos de mulheres e minorias.

Encerrado o debate dos presidenciáveis, ele continuava indeciso na madrugada de sexta (21), mas disse estar mais preocupado com a escolha de um candidato a deputado federal do que com a disputa majoritária. "Ninguém governa o Brasil sozinho”, afirmou.

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