Polícia Federal combate logística do garimpo em Roraima

Ação foca na estratégia de mineração ilegal

Leão Serva
São Paulo

A Polícia Federal (PF) iniciou na madrugada desta quinta-feira (27) uma operação de repressão ao garimpo ilegal na Terra Indígena Ianomâmi (Roraima). A ação, denominada Tori (carrapato em língua indígena), está focada na logística de abastecimento da mineração ilegal, como empresas de aviação e casas de comércio de máquinas, combustíveis e bens de consumo. 

A PF se soma à operação iniciada pelo exército em agosto, quando foram implantadas bases fixas de vigilância ao garimpo em locais estratégicos da Terra Indígena, barrando o acesso por barco através dos dois principais rios que atravessa a região e destruídas algumas pistas de pouso.

A ação da polícia era esperada desde o início do trabalho dos militares, mas havia sido adiada em função do envolvimento de agentes na crise migratória na fronteira com a Venezuela. A operação agora está envolvendo pessoal de outras áreas do país.

Desde as 3h (hora local, 4h em Brasília), cerca de 200 policiais federais agiram para cumprir 77 mandados judiciais em Boa Vista (capital) e outros municípios do Estado. Segundo nota oficial da polícia, foram feitas 17 prisões preventivas, 12 prisões temporárias e 48 mandados de busca e apreensão. As ações tiveram apoio do Exército e da Anatel, segundo informa o comunicado da PF.

A Justiça Federal em Roraima emitiu ainda autorização para destruição de duas pistas clandestinas de pouso; suspensão de licença de voo de pilotos engajados no abastecimento do garimpo e apreensão de 18 aviões.

A Polícia Federal preparou a operação ao longo dos últimos 12 meses, identificando centrais de rádio e também o roteiro do abastecimento: para escapar da vigilância nos aeroportos de Boa Vista, os aviões de abastecimento vinham decolando de pistas clandestinas em áreas rurais. Também a retirada do ouro nos garimpos passou recentemente a ser feito por aeronaves, em lugar dos barcos, mais sujeitos a controle oficial.

GARIMPEIROS SAEM

Segundo balanço feito pelo Exército, 950 garimpeiros já foram registrados ao deixar a Terra Ianomâmi desde o início da implantação das bases fixas de vigilância dos principais rios da área indígena, em meados de agosto. O número é expressivo diante das projeções que apontam a presença de 2 mil a 5 mil trabalhadores ilegais na região. 

Nos últimos anos, órgãos oficiais (Exército, PF, Ibama, Funai) realizaram diversas operações contra o garimpo, mas sempre pontuais e por tempo limitado. Os garimpeiros se acostumaram a ficar por certo período de tempo em esconderijos na floresta até a retirada dos agentes públicos.

O estabelecimento das bases nas margens dos rios Uraricoera e Mucajaí, em agosto, restringiu a circulação de barcos, forma mais usada para a logística da mineração e para levar o ouro extraído até o mercado, em Boa Vista. No entanto, em sobrevoos realizados no início de setembro, o colunista constatou a continuidade dos trabalhos em alguns garimpos e o surgimento de ação em lugares mais escondidos na floresta.

O Exército detectou que, embora mais caro, o abastecimento por aviões se manteve. A operação Tori visa a eliminar essa forma de transporte.

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