Descrição de chapéu Eleições 2018

Tive vergonha do PSDB, mas o partido não faz apologia a presidiário, diz Gabrilli

Candidata ao Senado diz que aceitaria rediscutir teto de gastos em relação a saúde e educação

Artur Rodrigues

Única parlamentar tetraplégica do Congresso, a deputada e candidata ao Senado Mara Gabrili, 50, diz que, mais do que criar novas leis para pessoas com deficiência, chegou a hora de fazer com que elas sejam cumpridas.

Hoje, ela está em segundo lugar na corrida ao Senado por São Paulo. Com um trabalho voltado não só para deficientes como pessoas com doenças raras, ela afirma que é fundamental que seja atualizada a tabela do SUS. Para isso, aceitaria até rediscutir o teto de gastos que ajudou a aprovar.

Em relação a casos de corrupção em seu partido, ela diz que já chegou a sentir vergonha do PSDB, mas afirma que a legenda tem comportamento diferente do PT por não fazer apologia a presidiário, referindo-se ao ex-presidente Lula.

Leia abaixo trechos da entrevista:

 

A senhora tem várias propostas focadas nas minorias. Como vê as críticas que tratam demandas desse público como 'mimimi'? 

Quando a política pública não contempla a diversidade, quem fica para trás? São as pessoas com deficiência, negro, mais pobres e aqueles que sofrem muito preconceito. Sempre trabalhei pela diversidade. Se você conhecer meu gabinete, eu tenho surdo, uma cega, autista, tenho gago, negro, gay, lésbica. Quando a gente melhora uma cidade para quem tem deficiência, vai ficar melhor para todo mundo. A gente tem segmentos que não dá para levantar o tapete, jogar em baixo e fingir que não existe. 

No Senado, qual é a política mais importante para pessoas com deficiência?

Como deputada, eu tive oportunidade de relatar e ser autora do substitutivo da Lei Brasileira de Inclusão. Hoje, a gente está num patamar de legislação que a gente não está precisando de mais. Precisamos fazer com que seja cumprido. Falando das pessoas mais vulneráveis, para abrir a porta para sair de casa, precisa de saúde. A gente está numa situação de saúde que é extremamente precária. Primeiro, se a gente não fizer a atualização da tabela do SUS, a gente não vai evoluir. Um terapeuta ocupacional ganha R$ 7 para uma sessão. 

O teto de gasto não afeta esse plano para reajuste da tabela do SUS?

O teto de gastos impostos faz com que a gente tenha que olhar melhor a gestão. E diminuindo a corrupção a gente ajuda bastante. Na época que ele [o teto] foi votado, inclusive eu votei a favor, era uma situação desesperadora.

Hoje seria o caso de rediscutir?

Eu rediscutiria, principalmente por conta de educação e saúde.

Deputada tucana Mara Gabrili durante entrevista na redação da Folha
Deputada tucana Mara Gabrili durante entrevista na redação da Folha - Zanone Fraissat/Folhapress

A senhora é favorável a cotas para mulheres na política?

Eu nunca fui a favor de favor de fazer uma cota dentro do parlamento. Muito por causa da experiência que eu tive. Porque eu agrego discriminação, se formos pensar por esse lado. Eu sou mulher, tetraplégica, a primeira vez que me elegi não tinha recurso nenhum. Mas olha o governo do primeiro ministro do Canadá, fez um governo que tem de tudo, tem lésbica, tem índio. Viraram para ele e falaram: por que você fez um governo assim? Ele respondeu: porque a gente está no século 21. Então, é uma questão de representatividade.

Hoje o principal movimento de oposição a Jair Bolsonaro, o #Elenão, foi criado pelas mulheres. Como vê esse tipo de mobilização?

Muito boa. Ele não, pela amor de Deus. Eu, inclusive, estava no plenário em alguns momentos que eu vi o Bolsonaro xingar mulher. Ele é uma pessoa que não valoriza mulher. Isso está na atitude dele, nas falas dele. Como a gente vai ter um presidente que desrespeita as mulheres?. 

A principal proposta do Bolsonaro para as mulheres é armá-las para se defenderem. Como vê essa proposta?

Hoje a gente tem o feminicídio, a cada duas horas uma mulher é morta no nosso país. Se você armar a população, não tenho dúvida de que isso vai piorar. 

Onde PSDB não acertou para não ter conseguido fazer Geraldo Alckmin estivesse mais competitivo a essa altura da corrida presidencial?

Eu vejo vários fatores, porque é algo tão impressionante. Ele tem de um tudo para mostrar. Pode mostrar na área de saneamento básico, saúde, segurança. Mas acho que o brasileiro está envolvido numa questão emocional, com essa história do Bolsonaro, o jeito agressivo dele. Acho que o Geraldo tem um jeito manso de ser e que talvez não seja o que encante o brasileiro nesse momento.

A Lava Jato e o PSDB ter se associado ao governo Michel Temer (MDB) não pesam?

Talvez para alguns pese. O PSDB teve um protagonismo muito grande para fazer o impeachment da presidente Dilma. A gente não fez o impeachment achando que iria chegar alguém, a gente sabia que o Temer assumiria. E seria até leviano dar as costas para o país. No primeiro momento não tinha como o PSDB não participar.

Como a senhora avalia que o PSDB se portou diante de casos de corrupção no partido?

Para mim não importa qual seja o partido. Tem que investigar e, se detectar que realmente é culpado, tem que punir. O partido ele não poderia chegar e sair expulsando membro sem uma condenação. É claro que as acusações de dentro do PSDB, eu fiquei muito magoada. Tive momentos de ter vergonha de dizer que eu era do PSDB por conta disso, mas, por outro lado, o PSDB nunca fez apologia nem a presidiário nem ao próprio crime. Então, nesse aspecto dá para dizer que é uma postura bem diferente do PT, por exemplo.

Deputada Mara Gabrili afirma que reformas tributária, política e da Previdência são urgentes
Deputada Mara Gabrili afirma que reformas tributária, política e da Previdência são urgentes - Zanone Fraissat/Folhapress

Qual é a tarefa mais urgente do Senado nos próximos anos?

A gente tem várias missões importantíssimas. Primeiro, fazer a reforma tributária, porque se o Brasil continuar com esse ambiente de negócios tão burocratizado e tão difícil, como a gente vai gerar empregos? Acredito que a gente precisa fazer uma profunda reforma política, não só para diminuir o número de partidos, mas para aproximar os parlamentares da população. E a gente tem que fazer uma reforma da Previdência, que eu fui ferozmente contra aquela que chegou na Casa, porque tirava dos mais vulneráveis. Mas sempre fui a favor de fazer uma reforma.

Como a senhora se posiciona em temas como aborto e legalização das drogas?

Em relação ao aborto, eu acho que tem que se discutir, não estou falando de liberar porque nenhuma mulher quer fazer aborto, o que acontece hoje é que o maior numero de procedimentos no SUS por conta de curetagem mal sucedida e quem morre é a mulher pobre.

E em relação às drogas?

Eu tive uma atuação muito forte para trabalhar, por exemplo, o canabidiol. Porque eu trabalho com doenças raras, com autismo, e ele é um componente da maconha que uma transformação muito grande. Porque é o primeiro remédio que se conhece que tira muito a convulsão. Mas é um medicamento caro, porque vem de fora. Por isso que a gente tem que discutir um uso medicinal. 

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