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Em culto, Malafaia ataca a Folha e ensina fiéis a identificar fake news

Uma das principais lideranças evangélicas do país, pastor é cabo eleitoral de Bolsonaro

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Rio de Janeiro

"Os obreiros vão distribuir os envelopes, vocês podem ofertar com cartão de crédito ou débito, se você quiser, ok, até para quem está na internet", orientou o pastor Silas Malafaia na noite desta quinta-feira (18), em pregação na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro. 

Poderia ser um culto como outro qualquer, mas a presença da imprensa levou o pastor, que até então fazia piadas e divertia os fiéis, a elevar o tom contra a reportagem da Folha. Malafaia, uma das principais lideranças evangélicas do país, é cabo eleitoral do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

O pastor Silas Malafaia durante audiência da Comissão Especial que analisou o Estatuto da Família, em junho de 2015 - Ed Ferreira/Folhapress

"Pego as reportagens dos jornais, quatro, cinco matérias contra Bolsonaro. De vez em quando, uma contra Haddad [Fernando]. Que imprensa parcial é essa?", questionou Malafaia em entrevista após a pregação.

A reportagem respondeu citando matéria que mostra que as críticas a Bolsonaro e Haddad tiveram as mesmas proporções na Folha

"Deve ter sido em outro jornal, porque eu estou acompanhando todo dia. É desigual, desonesto, ridículo, uma imprensa esquerdopata. Aí eu fico nervoso, não é com você, é com os órgãos de imprensa, por isso que ando indignado."

Quando deu início ao culto, Malafaia citou os jornais internacionais que estavam na igreja, disse que nunca havia recebido tantos jornalistas e afirmou que todos estavam livres para entrevistar os fiéis. Em seguida, orientou seus seguidores a identificar fake news.

"Tudo que você ouvir nas redes sociais, na imprensa... Número um, duvidar. Número dois, criticar, analisar o que está ouvindo. Número três, determinar, não aceito nada, aceito tudo, aceito parte. Se fizer as três coisas vai parar de ficar replicando fake news de graça."

Malafaia também defendeu que o pastor não é dono dos fiéis ou de seus votos, mas que pode influenciá-los. "O sindicalista influencia, o ativista político, os artistas, por que eu como pastor não posso influenciar? Eu influencio como outros influenciam também", discursou.

Mais cedo, no Twitter, Malafaia criticou a Folha pela veiculação de reportagem que revelou que uma rede de empresários financia campanha contra Haddad no WhatsApp, firmando contratos de até R$ 12 milhões para comprar pacotes de disparos em massa. 

Questionado pela Folha se não é importante que irregularidades do tipo sejam identificadas, o pastor afirmou que Bolsonaro não tem responsabilidade sobre o caso. "Os caras produzem fake news, empresários, sei lá quem, e o cara [Bolsonaro] é responsável? PT falar em fake news deve ser brincadeira."

Para Malafaia, a imprensa está "doida" porque perdeu o monopólio da informação. "A Folha, o Globo, a Época, a Veja falam uma mentira e o pau canta nas redes sociais. Por isso que a imprensa quer desmoralizar as redes sociais, essa que é a verdade", disse. 

O pastor nem sempre foi defensor ferrenho do candidato do PSL. No ano passado, quando acreditava na candidatura de João Doria (PSDB) ao Planalto, Malafaia afirmou que Bolsonaro não tinha competência administrativa e política para ser presidente. 

"Era minha posição naquela época. Mudou porque estou vendo o quê? PT, Haddad. Haddad representa roubalheira, o maior esquema de corrupção da história política do Brasil, tem mais de 30 processos, perdeu no primeiro turno uma eleição. Poste, fantoche de Lula. Aí eu tenho que ser Bolsonaro. Porque não tem outro. Como um cara desses quer ser presidente? Vou te contar, minha filha, até um Garotinho [Anthony, ex-governador do Rio] eu votava."

À época, Malafaia atacou Bolsonaro porque ficou ressentido com o ex-capitão. Isso porque, na visão do pastor, o candidato do PSL não fez uma defesa enfática de sua inocência, quando foi indiciado na Operação Timóteo sob suspeita de lavagem de dinheiro em um esquema de corrupção em cobranças de royalties da exploração mineral.

"Ele me defendeu, mas não me defendeu como deveria, por isso fiquei invocado. Foi por isso, eu estava com raiva, quando a gente está com raiva fala umas bobagens e eu estava indignado. Porque eu defendi ele na questão da Maria do Rosário, que chamou ele de estuprador. Na hora que chegou minha vez, deu um depoimento lá no Congresso, eu falei: é isso, cara? Tinha que meter nas redes sociais. Depois que acabou tudo, [Bolsonaro disse] vem gravar uma live, aí agora eu não quero."

Questionado pela reportagem sobre a funcionária fantasma que Bolsonaro mantinha em Angra dos Reis (RJ), Malafaia respondeu que todo funcionário de deputado federal "trabalha em outras coisas". Como revelou a Folha, o parlamentar utilizava verba da Câmara para empregar uma vizinha que vendia açaí

"Funcionária fantasma que vocês inventaram. Foi apurado nada. A mulher morava em Angra, como qualquer funcionária. Noventa por cento do gabinete de um deputado está no estado. Em Brasília mantém uma secretária, um telefonista e um assessor. Todo funcionário é cargo político comissionado, trabalha em outras coisas e tem uma nomeação política. A imprensa sabe disso."

Sob gritos de "mito" e câmeras de celular que filmavam a repórter, Malafaia aconselhou que "é melhor já ir se acostumando" e questionou a idoneidade da reportagem. 

"Filha, vai me desculpar, o teu jornal, com todo o respeito, é o jornal mais esquerdopata, mais mentiroso, mais fake news. Eu estou dando entrevista aqui por uma questão sua, mas a organização Folha é uma vergonha. E é bom todo mundo gravar, vamos ver o que vão botar lá."

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