Descrição de chapéu Eleições 2018

Governo Bolsonaro não será de maioria de militares, diz presidente do PSL

Gustavo Bebianno descarta diálogo com a esquerda, que tem a 'mentalidade mais atrasada da face da Terra'

Talita Fernandes
Rio de Janeiro

Um dos principais aliados do candidato Jair Bolsonaro (PSL), o presidente em exercício do partido, Gustavo Bebianno, afirma que um eventual governo do capitão reformado não será formado por maioria de militares.

"Isso nunca foi cogitado", disse em entrevista à Folha, enquanto acompanhava gravações e edições do programa de televisão do candidato.

O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, durante entrevista à Folha no Rio
O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, durante entrevista à Folha no Rio - Ricardo Borges/Folhapress

Bebianno, 54, se apresenta como um liberal e diz que não haverá espaço para diálogo com partidos de esquerda, como PT, PSOL e PC do B, por eles representarem a "mentalidade mais atrasada da face da Terra".

Advogado, ele admite a possibilidade de assumir o Ministério da Justiça, mas afirma não ter sido convidado pelo presidenciável, de quem se tornou amigo próximo. Ele diz que mulheres podem ocupar uma ou duas pastas em um governo Bolsonaro, mas afirma que elas não serão escolhidas por questões de gênero, e sim de competência.

Para Bebianno, Bolsonaro aprovou apenas dois projetos de sua autoria como deputado federal por estar sozinho, isolado, mas diz que isso mudará se ele ganhar a Presidência.

 

Bolsonaro já confirmou três nomes em ministérios, caso vença. Outros nomes devem ser divulgados antes do segundo turno?

Talvez, há bons nomes aí que estão sendo cogitados para a área de saúde, por exemplo. Pode ser que ele anuncie antes. Num dado momento nós pensamos em anunciar logo praticamente a maioria dos nomes, depois, num outro instante, achamos melhor deixar um pouco mais para frente até para não gerar um desgaste muito antecipado em cima dessas pessoas, especulações.

Em Brasília há um grupo de generais que dá suporte à campanha e ajuda a construir o plano de governo. Qual o papel que militares vão ter num eventual governo Bolsonaro?

Tenho certeza que a escolha dos ministérios não terá como critério esse fato: é militar, não é militar. Eu acho que os militares entendem, por exemplo, muito de infraestrutura. Os militares, por sua natureza, por sua formação, têm três, quatro, cinco cenários diferentes para cada assunto.

Acredito que desse núcleo de estudos, por exemplo, o general [Oswaldo] Ferreira, conhece a fundo as mazelas do Brasil e as suas necessidades para infraestrutura. Então, talvez, desse núcleo militar venha um núcleo para a infraestrutura. Essa decisão competirá ao Jair no momento oportuno. Mas não será, com certeza, um governo composto por sua maioria por militares. Isso nunca foi cogitado.

O governo Temer foi criticado por não ter nenhuma mulher inicialmente em seus ministérios. Existe alguma mulher cotada para alguma pasta?

Temos dois nomes muito fortes e conhecidos que talvez venham a participar dessa composição ministerial. Mas a escolha delas, se porventura acontecer, não será porque elas são mulheres, será por competência.

O nome do sr. é cotado para Justiça. Como vê isso?

Há um zumzumzum, já li alguma coisa. Não foi feito nenhum convite formal, eu nunca pedi absolutamente nada, entrei nisso como voluntário, obviamente você ser lembrado para alguma coisa é sempre positivo, quem não gosta? Mas não há nenhum acerto em relação a isso não.

Sendo convidado, aceitaria?

Acho que sim, é um desafio muito grande. Acho que eu teria sim como contribuir para o meu país. Mas melhor do que ninguém o Jair vai saber onde eu deverei atuar.

A candidatura de Bolsonaro se firma contra o PT e contra a corrupção. Como seria governar com apoio eventual de pessoas que já foram acusadas em escândalos?

Me dá um exemplo.

Nomes do PP, do PSDB, do DEM, pessoas que já se manifestaram a favor.

No momento há que se dividir eleição de momento de governo, agora existe muita gente que se chegou para o nosso lado porque identificou no Jair a maior liderança política da atualidade.

Um homem sozinho, sem dinheiro, com partido pequeno, sem acertos com outros partidos, sem apoio de empresários, sem nada.

Ele sozinho fez 52 deputados federais. Obviamente depois para governar você precisa aprovar as medidas. Mas você não verá o tipo de negociação que você estabeleceu nos últimos anos. O que vai haver são pautas temáticas, pautas regionais. Então será um tipo diferente, será uma negociação saudável em benefício do país, e não aquele toma lá dá cá.

Já anunciado para Casa Civil, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) admitiu que recebeu caixa 2. Isso não causa desconforto para a campanha?

Acompanhei superficialmente na época, eu me lembro de ele ter vindo a público e se manifestado de maneira frontal, assumiu o erro, pagou o preço por seu erro, e o deputado me parece uma pessoa muito correta. Teve uma postura muito correta nessa oportunidade. Um erro muito pequeno em comparação ao todo de seus pares e temos plena confiança nele.

O PSL elegeu uma bancada expressiva, mas o PT ainda tem a maior. Bolsonaro tem falado que o objetivo dele é unir o país. Como vai ser a governabilidade e de que forma essa união engloba o PT e a esquerda? Tem espaço para diálogo?

Não, com o PT não. PT, PC do B, PSOL, não há diálogo e não por intransigência nossa. Não há diálogo pelo histórico desses partidos. São partidos que nunca pensaram no país. Eles pensam no partido, é isso que nos divide. Eles pensam no partido, eles pensam no poder, eles pensam que toda corrupção cometida por eles é justificável.

Entendemos que essa esquerda representa a mentalidade mais atrasada da face da Terra. É o esquerdismo bolivariano. É uma mentalidade que gera pobreza, que gera desigualdade, que gera violência e que tem o poder de aniquilar com qualquer sociedade organizada. Por isso com eles não haverá qualquer conversa.

Vocês pensam em compor as presidências da Câmara ou do Senado?

Isso será discutido a partir do dia 29. De um modo geral, entendemos que a Câmara deve ter sua autonomia, o Congresso deve ter sua autonomia. O Poder Executivo é um, o Legislativo é outro, e uma tentativa de influenciar o Legislativo nós vemos, a princípio, com maus olhos.

Agora, evidentemente, tendo a segunda maior bancada, o PSL terá um peso nessa escolha, mas qualquer negociação do tipo só a partir do dia 29.

Bolsonaro fala muito em posse de armas e retaguarda jurídica para policiais na área de segurança. Mas os problemas do país são maiores do que esses pontos. Quais outras propostas?

Em primeiro lugar, quando o Jair defende a posse de armas, ninguém imagina que a solução para situação de segurança pública se resolva por aí. O que o Jair está defendendo é o direito à legítima defesa. O Estado não é capaz de garantir a minha vida, a sua vida, a vida dele. Ora, se o Estado não é capaz de defender a minha vida, será que eu não tenho o direito de me defender em caso de agressão atual e iminente?

Se alguém me convencer de que eu posso defender a minha vida sem uma arma de fogo, eu vou acatar, mas ninguém me prova isso. A segurança pública, antes de mais nada, é mais ou menos como um sistema financeiro. O sistema financeiro funciona de credibilidade. Se todo mundo correr pro banco para fazer um saque simultaneamente, acabou, quebra o sistema financeiro porque não tem dinheiro para entregar para os correntistas todos ao mesmo tempo.

À medida em que a população olha para a polícia e enxerga a polícia com respeito e tem credibilidade, só aí você inibiu 80% do problema. Quem ousar enfrentar a polícia ou cometer um crime e ter a certeza de que se cometer um crime e for apanhado vai pagar pelo crime, você diminui 70%, 80%. É aquilo que o Jair fala: o homem só respeita aquilo que teme. E é verdade.

O que vai dar mais credibilidade para as polícias? A polícia reclama de falta de recursos, por exemplo.

Milagre ninguém consegue fazer sem recursos. O pagador de impostos está aqui embaixo na base da pirâmide, ele paga os seus impostos, esse dinheiro vai para um duto cheio de vazamentos até Brasília, chega a Brasília ele cai numa máquina burocrata e corrupta, e esse dinheiro também cai ali em diversos vazamentos.

Depois de muito tempo, superadas as burocracias, o dinheiro volta por outro duto também repleto de vazamentos e chega aqui embaixo. Nesse ciclo, o dinheiro vai embora. O tempo perdido é burocracia e corrupção, o dinheiro ele tem que ficar onde está o pagador de impostos. O outro lado é a questão moral. Um presidente da República forte, gostemos ou não, o Brasil vem sendo governado por homens frouxos, fracos e corruptos. Jair Bolsonaro é um homem forte e honesto. Você governa pelo exemplo.

Medidas para mudar a estrutura de impostos dependem do Congresso, não são rápidas e outros governos não conseguiram. Por que agora dá?

O tempo é difícil prever, mas temos a convicção de que vamos conseguir. Porque o Brasil não aguenta mais. As águas correm para o mar. O Executivo é muito forte, o Jair é uma pessoa que tem 28 anos de Câmara. Ele sabe como funciona aquilo ali, os porões, sabe como conversar, como conduzir. Ele é um animal político, de muita inteligência e sabedoria.

Mas o histórico dele, de ter aprovado apenas 2 de mais de seus 170 projetos não causa desconfiança?

Porque são momentos completamente diferentes. Como deputado ele não fez parte do alto comando de nenhum dos partidos, ele era baixíssimo clero ali, nunca se rendeu a fazer acordos espúrios, por isso era deixado de lado.

Como tudo no Brasil, o funcionamento da Câmara tem suas peculiaridades. Um parlamentar ali para aprovar projetos precisa ter uma série de relações, de conchavos, e ele não tinha isso. Então realmente era mais complicado para ele. Ele atuou muito mais como zagueiro, como defensor, do que como atacante.

Ele evitou que vários projetos extremamente nocivos ao país fossem aprovados. Amanhã, como presidente da República, com a força política e o apoio popular maciço que tem, isso gera para ele uma outra base, uma outra possibilidade de negociação. Ele passa a ter o poder nas mãos dele, coisa que ele não tinha antes.

Bolsonaro já falou em aumentar o número de ministros do STF, depois voltou atrás. Isso está no plano?

Primeiro, isso teria que passar pelo Congresso. Não seria fruto do desejo de um presidente da República. Em segundo lugar, ele fez isso num momento, num comentário, em que se discutia a atuação do Poder Judiciário. Muita gente entende que um mesmo partido político ter indicado 8 de 11 ministros provocaria um certo desequilíbrio.

Eu particularmente não vejo dessa forma até porque o Supremo condenou o presidente Lula. Quando o presidente Lula diz que foi um julgamento político e tal, julgamento político como? Se ele escolhe a grande maioria dos ministros que o julgou? Ele [Bolsonaro] pensou alto, nunca houve um estudo [de aumentar número de ministros], nunca houve realmente de essa hipótese ter sido levada a sério, nunca aconteceu.

O sr. já disse que não gosta de política e que não entende do tema. Por que decidiu entrar para o meio?

Apesar de não gostar de política, não ter nenhuma experiência, eu obviamente tenho noção da importância da política. Geralmente aqueles que não gostam da política deixam a política para outros fazerem e muitas vezes, por conta disso, os maus tomam conta do espaço e a gente fica reclamando para as paredes.


Raio-X

Gustavo Bebianno, 54

Presidente em exercício do PSL, é formado em direito pela PUC-Rio e mestre em finanças pela Universidade de Illinois (EUA). Foi diretor jurídico do Jornal do Brasil e é ex-sócio do escritório de advocacia Sergio Bermudes

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